quarta-feira, 2 de setembro de 2009

COIMBRA: UMA CASA CAMARÁRIA POR 35 CÊNTIMOS





 Hoje, no Diário de Coimbra (DC), vem o vereador do pelouro da habitação da Câmara Municipal de Coimbra, Jorge Gouveia Monteiro, esclarecer uma cedência feita à Associação dos Moradores do Bairro do Ingote. Esta carta-esclarecimento surge depois de, na segunda-feira, última, no DC, vários moradores daquele bairro, se insurgirem contra a “oferta” –segundo alegavam no DC desse dia- do andar feita pelo pelouro da habitação à dita associação. Contrapunham os residentes que muitos “tinham habitações superlotadas com colchões pela sala e cobertores espalhados pela habitação, como que transformadas em autênticas casernas de quartéis”.
Continuando a citar o DC, “Mas, andares vagos, há, o que não existe é boa vontade. (…) Com a possibilidade de não mencionarmos todos os casos, indicamos os que detectámos”. Seguia-se a enumeração localizada de 17 habitações naquele bairro, entre devolutas, algumas não habitadas há mais de 6 anos, e outras ocupadas temporariamente por cedência.
Ora vejamos o que esclarece o vereador Gouveia Monteiro: “Primeiro, para estranhar o tom e as expressões do tipo “quero, posso e mando” e “cara a cara” para com um vereador que tem recebido cordialmente todos os que a ele se dirigem. Segundo para reafirmar que a prioridade da política de habitação da Câmara Municipal de Coimbra é atribuir casa a quem não a tem e dela comprovadamente necessita. (…) Terceiro, para agradecer a sinalização de casas ditas devolutas, algumas das quais estão efectivamente em posse da Câmara e outras tardam em lhe serem entregues. Daí que, a fazer fé em tanta casa devoluta, seja difícil de perceber tanta inveja pela cedência de uma única habitação à Associação dos Moradores do Bairro do Ingote, acto de elementar justiça, já que todas as outras associações funcionam há muito em casas da Câmara.”
“Quarto, para reafirmar que as mudanças de habitação, não sendo uma obrigação da Câmara como senhorio, têm efectivamente como prioridade as situações de saúde mais graves.”
“(….) Finalmente, para desejar que o período que se avizinha, eleições incluídas, não faça perder o sentido de respeito e de boa vizinhança. Dirijo-me àqueles cidadãos que assinam o texto, não a outros que se escondem e cujo único propósito parece ser semear a discórdia”.


Ora deixai-me tomar fôlego que estou sem ar. O vereador responde que vai pedir um inquérito para indagar da veracidade de tais afirmações? De haver 17 habitações em situação irregular? Nada disso. O que responde o vereador aos cinco cidadãos? Mais ou menos isto: as mudanças de habitação não são uma obrigação da Câmara como senhorio. Ai não? Então são de quem?
Depois, do seu comentário final, extrai-se mais ou menos isto: como estamos em período eleitoral, não percam o tino e não chateiem.
Já aquando do “escândalo” das habitações camarárias em Lisboa, em que, presumidamente, esteve envolvido Santana Lopes, escrevi aqui no blogue que esta Câmara, pelo respeito que deve aos seus munícipes, deveria analisar, caso-a-caso, todos os arrendamentos na cidade e em que é senhoria.
O pelouro da habitação, há cerca de um ano, arrendou uma casa aqui na Baixa por 25 euros. No Bairro de Celas há dezenas de locados camarários com rendas que vão de 35 cêntimos a 10 euros. Que a maioria são aposentados, com reformas baixas, é verdade. Mas, estará certo isto? Uma maioria esfalfa-se a trabalhar noite e dia para conseguir ter um pouco de chão a que chama seu legitimamente porque o comprou e pagou. Outros, sem nada fazerem, umas vezes por simpatias políticas, outras porque realmente as pessoas são pobres, mas, e depois? Estará certo os nossos impostos servirem para muitos cidadãos terem uma casa quase sem esforço?
O problema é que, mesmo quase oferecidos, nunca estão satisfeitos. Basta reparar neste caso que transcrevo, e pensemos na distribuição de casas, há uma semana, no Bairro da Misericórdia, na Conchada, em que quase deu pancada.
Eu, "com as costas do meu pai" –como quem diz, com a riqueza do Estado-, também sou um grande benemérito.
Se o vereador Gouveia Monteiro está ressabiado pelo mal-agradecimento dos moradores, ainda bem. É o destino a tentar equilibrar um acto pouco consensual e castigar quem dá o que não é seu.
Claro que, nesta cultura que se vive de dar o peixe já cozinhado em vez de se ensinar a pescar, já vem de longe. E, ressalve-se, este senhor vereador é apenas “mais um” instrumento ao serviço do poder para fins eleitorais. Ou seja, beneficiar uma minoria (demasiado grande) à custa do sacrifício da maioria (que cada vez é mais pequena). Por isso é que as coisas estão como estão.

2 comentários:

Anónimo disse...

Belo comentário da sua parte.
A sua análise é de facto de quem está por dentro destas matérias.
Quanto ao Vereador da CDU, está a pagar pelo trabalho que fez. Cá se fazem, cá se pagam.
Aliado incondicional do Dr. Carlos Encarnação, pois foi um Vereador que na dúvida fazia a maioria nesta Câmara.Foi de facto um Vereador do Planalto.
Será que com a sua colagem ao Dr. Carlos Encarnação o PCP, colocou-lhe uns patins? Com esta e outras questões o Dr. Gouveia Monteiro prejudicou a CDU?
Veremos no dia 11 de Outubro.

Francisco Norega disse...

Não, não vamos dar casas a preços baixos a desempregados e idosos sem posses! Para quê? É preferível morrerem de frio na rua, no inverno.

Menos páritas na sociedade.


(que mentalidades)