quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O ELEVADOR DO MERCADO D. PEDRO V






(Esta foto não é minha, foi roubadita à Wikipédia)



Começo por confessar: nunca viajei no elevador do mercado, que vai da Rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes, junto à "praça" municipal, até à Rua Padre António Vieira.
Como se sabe, foi mandado construir pelo então presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Manuel Machado, no início de 2000 e foi inaugurado em 2001, já quase em fim de mandato autárquico. Foi apresentado à cidade como uma obra de regime. Um daqueles projectos realizados que marcam um autarca ou um governante. É um ascensor vertical nos primeiros 20 metros. Segue-se uma rampa horizontal, que é percorrida a pé, e depois apanha-se novamente um outro elevador em plano inclinado, em cerca de 51 metros, que vai então desembocar na Rua Padre António Vieira. É todo construído em ferro, a fazer lembrar as carismáticas obras e o engenho de Gustave Eiffel, construtor da Torre Eiffel em Paris e várias pontes no nosso País.
Apesar de nunca ter viajado neste bonito elevador, guardei sempre no meu inconsciente de que, em custos para o município, era um elefante branco. Não me perguntem onde, nem quando, fui recolher este pré-conceito, mas é mesmo assim. Sempre que o olhava, pensava para mim o quanto desperdício, em termos financeiros, teria sido aquele edifício. Nunca olhei para este elevador como obra de arte e muito menos sobre o ponto de vista da utilidade.
Hoje, passei por lá, olhei, e, de “dente-afiado”, já com ideias feitas, “a priori”, pensei para mim: é hoje que vou escrever sobre este monstro de ferro. Se calhar até estará encerrado. Vai dar um bom texto, pensei com os meus botões.
Para minha surpresa, nas idas e vindas do ascensor, comecei a ver a entrar e a sair várias pessoas. Na cerca de meia-hora que lá permaneci, nunca o elevador fez uma viagem sem utentes. Reparei, pelo aspecto, que alguns eram estrangeiros. Fui então falar com a funcionária dos SMTUC, a simpática Susana Silva. Começando por lhe dizer o quando estava errado acerca desta obra, e que nunca tinha viajada nele, interroguei-a sobre o que achava desta construção, enquanto funcionária diária que ali estava permanentemente a vender bilhetes –várias vezes tive de interromper a conversa para a Susana tratar de informações ou vender títulos, sempre de sorriso nos lábios. Começou por mandar uma gargalhada: “Homem não fique assim. A maioria e mais um bocadito dos conimbricenses nunca andaram no elevador, e naturalmente pensam como você. Acredite, não é por eu ser funcionária aqui, mas é uma obra muito bem conseguida para a cidade, que acabou por se tornar emblemática. Tanto em termos de turistas –que neste mês de Agosto é quase o nosso frequentador diário-, como em termos de prestação de serviço. As pessoas que moram na Alta da cidade, provavelmente, a maioria vêm por aqui. Posso dizer-lhe que quando é feita a manutenção do elevador –que habitualmente demora uma manhã-, logo as pessoas vêm para aqui reclamar. É impressionante a falta que lhes faz este meio de transporte”, enfatiza a Susana Dias.
E quanto custa um bilhete, Susana? Interrogo. “É assim: as pessoas com mais de 60 anos não pagam. Para os residentes na parte alta da cidade o transporte também é gratuito. Se você quiser fazer só uma viagem, entra no elevador, e paga um bilhete ao funcionário permanente de 1,50 euros. Se quiser fazer várias visitas à Alta pode comprar aqui uma senha de três viagens por 2 euros, ou então 11 por 6,10 euros. Estes títulos de transporte também servem para os autocarros”, salienta a Susana.
Às vezes, sem se saber porquê, somos levados a desenvolver pensamentos negativos apriorísticos em relação a pessoas ou a coisas. Em relação às primeiras, basta conversarmos um pouco com elas para vermos que afinal não são nada como as imagináramos. Em relação às coisas, o mesmo procedimento mental, desenvolvemos um mecanismo de defesa que, para além dele, não deixa ver mais nada. Recebi uma lição? Pois foi. Devo um pedido de desculpas ao Manuel Machado? Também. Aqui vai: desculpa lá, ó “Manel”. Não me importo nada desta retratação. Ainda bem que tiveste olho. Fico contente, “Manel”…

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