sábado, 4 de julho de 2009

A GUERRA SURDA EM TORNO DO ARTESANATO


(ESTE EXPOSITOR ESTAVA PRESENTE NA "FEIRA DE ARTESANATO URBANO". DE MUITA QUALIDADE, DIGA-SE A PROPÓSITO. O QUE NÃO SE ENTENDE É O CONCEITO DE "URBANO")



(RUAS VISCONDE DA LUZ E FERREIRA BORGES, ONDE DECORREU O CERTAME ORGANIZADO PELO PELOURO DA CULTURA)



 Hoje é o dia 4 de Julho –comemoração da independência dos Estados Unidos da América, em 1776, em relação à Grã-Bretanha-, dia da cidade de Coimbra. Para além da sessão solene, cujas cerimónias, habitualmente, decorrem com comendas atribuídas a vivos e mortos, este ano, com organização do pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), realizou-se nas ruas de Visconde da Luz e Ferreira Borges a “3ª edição da Feira de Artesanato Urbano de Coimbra”.
O que terá isto de especial, pergunta você, leitor?! Ora bem!, aparentemente pouco para quem não sabe. Para quem anda por aqui, como eu, muito. Eu explico. Antes de me alargar, ressalvo que sou amigo dos dois intervenientes que aqui vou “cortar na casaca”, ou sejam, Carlos Clemente, presidente da Junta de Freguesia de São Bartolomeu e Mário Nunes, vereador da Cultura da CMC.
Comecemos pelo título de “artesanato urbano”, aparentemente o baptismo deve-se ao padrinho Mário Nunes. E então, logo aqui, surge uma pergunta inocente: se existe artesanato urbano, pelo silogismo, também haverá artesanato rural. É assim? Ou estamos perante uma idiotice mais alta que a torre da Universidade? Quanto a mim, estamos. Mas, há uma coisa, não levem muito em conta o que eu escrever, vejo sempre tudo ao contrário, e pode ser que não seja assim.
Mas, por hipótese, a ser assim, como defendo, uma idiotice, qual a razão, parece interrogar você, leitor?! Mais uma vez eu explico. É que, com uma escada a separar –as Escadas de S. Tiago-, na hora em que escrevo, na Praça do Comércio, está a decorrer uma outra feira com o título de “IX Feira de Artesanato e III de Sabores Tradicionais”, organizada pela Junta de Freguesia de São Bartolomeu. Ou seja, sublinho, ao mesmo tempo, estão a decorrer duas exposições de artesanato, como se estivessem a competir entre si.
E depois?, parece interrogar-me, você, de nariz empinado. É que, entre os dois certames, que no fundo se deveriam complementar –uma vez que tem por pano de fundo a revitalização da Baixa-, parece existir uma guerra surda, um ambiente de cortar à faca. Como se a alegoria que decorre em cima nada tivesse a ver com o que se passa a dois passos. Eu sei os comentários que ouvi, em surdina, por parte dos expositores. Naturalmente que não vou reproduzi-los. É como se em cima fosse a “Baixa” dos ricos e três degraus depois estejamos na “baixinha”, o bairro dos pobres e dos desgraçadinhos.
Várias questões se levantam. Uma delas é que a que está a decorrer nas ruas da calçada deveria estar interligada com a da Praça do Comércio, e não está. Nem sequer uma simples indicação junto às Escadas de São Tiago tem. Quem não souber, vê a de “artesanato Urbano” e vai-se embora.
Outra questão, se em cima está o artesanato, dito de “urbano”, constituído por produtos manuais feitos à base de feltro e retalhos de tecido, também em baixo, na Praça do Comércio, estão expositores com artigos do mesmo género.
Outra questão que me parece válida, ainda que em juízo de valor. Como já é habitual, aqui na Baixa, cada um procura ter o maior protagonismo –a começar logo por mim, que sou o pior, e até já me imagino presidente da câmara. Então, procurando os maiores dividendos possíveis, cada um decide à revelia dos demais. Em vez de, logo no princípio do ano, todos os intervenientes, se sentarem numa mesa e calendarizarem os eventos, não. Cada um vai decidindo conforme lhe dá mais jeito. Não preciso de dizer que, nesta guerra surda quem sai prejudicada é naturalmente o centro histórico. E, com franqueza, não sei de quem é a culpa. Se é da junta de freguesia se é do pelouro da cultura. Posso estar a ser influenciado pela hierarquia, mas penso que quem tem obrigação de pôr ordem na mesa será a câmara municipal.
Claro que eu escrevo, um bocado irritado, nota-se, porque assim a continuar, com esta guerra entre as duas entidades, naturalmente, fico sem espaço. Como posso eu vir a ser presidente da câmara ou -longe vá o agoiro, que eu quero o maior penacho- vereador? Roubam-me todo o protagonismo. Claro que fico chateado. É mais por isso.
E então está explicado o baptismo do “artesanato urbano”. Ou não está? Se calhar não. É este meu mau feitio. Que carraça, meu Deus. Se eu pudesse, até me via livre de mim…

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