quarta-feira, 17 de junho de 2009

UMA IMAGEM CAPTADA AO ACASO...





O comércio de rua está complicado? Quem é que não sabe isso? Por que estou a chover no molhado, interroga você? Sei lá. Se calhar, na falta de melhor argumento, para o lembrar que está na sua mão que a loja X ou Y não encerre as portas.
Eu sei, eu sei, o que você vai dizer. Que no “shopping” é mais barato -será mesmo? Tenho as minhas dúvidas. Dirá que na grande superfície até nem apanha sol, nem paga estacionamento, etc. Está bem. É verdade, mas, por mais autenticidade que tentem mostrar, com ruas a imitar o comércio tradicional, nunca passarão de réplicas. O genuíno, o original, está nas cidades. Jamais conseguirão transportar o bulício da rua, o grito da “menina” Josefina, que mora no 3ºandar, e está na varanda do prédio, “ó Afonsa, emprestas-me dois ovos?!”.
E quando você caminha ao longo da ruela, e a romena com o bebé ao colo, que não descola, num português “algarbeado”, a pedir-lhe uma moedinha? Ou a cigana –infelizmente, já pouco se vêem por aqui- a pedir-lhe para lhe ler a sina? Atirando-lhe de supetão: “eu digo-lhe tudo o que se passa na sua vida. Você sofre de mal de inveja, e sabe que tem uma pessoa que gosta muito de si?”.
Ora, repare, estes quadros cénicos, quando apreciados sem pressa, podem ser extraordinariamente enriquecedores. O problema é que andamos tão ensimesmados com os nossos problemas, sempre a correr, que nem tomamos noção de quanto podem ser bonitos pela sua originalidade. Olhamos sempre para estas “pinturas” negativamente, quando, se pensar um pouco, estas figuras, estilisticamente, são a pureza, as “margens” das cidades que, sem preocupações estéticas ou de parecer “politicamente correctas”, nos aparecem, no dia-a-dia, como que a quebrar uma rotina.
Nem quero pensar o que seria a grande cidade sem o músico de rua, sem o mendigo, com a sua lengalenga, o louco, como figura típica. Mesmo até a prostituta. São eles que numa prossecução do seu interesse, sem o saberem, acabam por criar uma dinâmica no meio em que estão inseridos.
Todos temos tendência a ver as coisas, sempre, da mesma forma, negativamente. Raramente, mudamos de posição –colocando-nos no outro lado do espelho. As coisas não acontecem por acaso. Em relação a uma posição, existirá sempre uma contra. É da natureza…

Sem comentários: