sábado, 6 de junho de 2009

UM DIA DE CHUVA PARA O EDUARDO





Estava o Eduardo naquela esquina a rogar,
“uma moedinha, uma só, por amor de Deus”,
quando neste Junho esquisito a parecer balançar,
entre um inverno escuro e um sol radioso de Mateus,
cai chuva “a potes”, como se Pedro estivesse a chorar;
Eduardo não desiste, trata o tempo com carinho,
não é a chuva que o desalenta, mas sim ser ignorado,
em lengalenga sofrida, vai pedindo um eurinho,
mesmo sabendo que isso não o fará notado,
Eduardo, vai pedindo, sabendo que está sozinho;
Passa a dama de chapéu e diz: “ai, coitadinho do senhor!”,
em passo apressado, sem olhar, passa o burguês apessoado,
a pensar com seus botões, preocupado, passa o trabalhador,
todos parecem infelizes, como o tempo mal amanhado,
Eduardo, invisual, sem ver rosto, adivinha-o sofredor;
Quem é ali o mais cego, pensa Eduardo com seus botões,
será a dama generosa, procurando a culpa expiar,
será o burguês preocupado com a bolsa e as suas acções,
talvez o trabalhador esteja pior, sem emprego, quer trabalhar,
de todos, sou o mais feliz, pensa Eduardo, no meio de tantos corações;
“Eu não vejo televisão, internet, nem jornais, logo não vejo a desgraça,
é certo que ouço os lamentos chorosos de quem passa sempre a lamentar,
ninguém me pergunta se tenho sentimentos, estou triste ou contente,
de mim, sabem tudo, sou o coitado da esquina, estou sempre a lamuriar,
sou máquina mecânica, uma caixa de esmolas, para eles não sou gente”.

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