segunda-feira, 29 de junho de 2009

EDITORIAL: HOJE A CIC FAZ SENTIDO?





Como se sabe, foi inaugurada no sábado a 29ª edição da CIC, Feira Comercial e Industrial de Coimbra. Esta feira que, nos idos anos de finais da década de 1970, então na Praça Heróis do Ultramar –hoje parcialmente ocupada com o centro Comercial Dolce Vita-, teve um sucesso estrondoso, hoje, pelas ruas da agonia, arrasta-se num sofrimento confrangedor.
Se quisesse ser desonesto intelectualmente, aleatoriamente, atribuía a culpa a uma entidade, ou várias, e, a partir daí, esmiuçando argumentos, defendia a tese de culpabilização de A, B ou C. Mas esse não é o papel que atribuo à minha pessoa. Para mais, não poderia sê-lo, ou desempenhá-lo, porque eu conheço muito bem, por dentro, os meandros da CIC. Eu estive na Associação Comercial e Industrial de Coimbra (ACIC) de 1998 a 2003.
Comecemos com uma pergunta singular: porque foi um êxito nos anos de 1970 e a partir do início da década de 1980, aquando da sua transferência para a Relvinha, foi sempre a cair? Muito simplesmente porque os tempos mudaram. Apenas isso. Coimbra, foi das primeiras cidades a ter uma feira comercial e industrial. Até aí, para além de Santarém e Golegã, pouco mais haveria. Para além disso, a cidade, nesta altura, ainda detinha um “acervo” considerável de empresas industriais. A partir de 1980 começaram a cair tudo o que restava de grandes empresas simbólicas de Coimbra, como por exemplo a Triunfo.
A par destes desaparecimentos industriais, à volta da cintura da cidade começaram a nascer feiras como cogumelos. Uma começou a impor-se extraordinariamente: a de Cantanhede. Nascem a FIL e a Exponor a nível nacional, como uma organização altamente profissionalizada.
Pela minha experiência, é extraordinariamente difícil convencer os poucos industriais e comerciantes da cidade dos estudantes. A maioria que vai para este certame, ou fá-lo pela tradição –porque sempre foi desde o inicio- ou então pela consideração que têm pelos directores da ACIC. Esta é uma verdade indesmentível. E, partindo deste pressuposto, entende-se como, mesmo apesar do esforço da ACIC e do apoio da Câmara Municipal –este ano a autarquia concedeu 130 mil euros para realizar este certame- a CIC não consegue crescer. Para não dizer que cada vez mingua mais.
Então o que é preciso fazer? Quanto a mim, continuar a apostar no actual figurino é esbanjar dinheiro que custa a todos. Para continuar nestes moldes, é preferível acabar. Até porque, sejamos racionais, por que razão cada “terreola” há-de ter uma feira? Como disse atrás, em 1978 justificava-se. Lisboa, pela única estrada, estava a cinco horas. Hoje está a duas horas. Hoje, não faz sentido dizer, com ênfase, que “sou de Coimbra”, como se isso transmitisse singularidade ou alguma coisa de novo a quem me escuta. Nos nossos dias, pelo encurtar de distâncias, há cidadãos do mundo e naturais de um país. As fronteiras existem apenas na nossa cabeça. São barreiras psicológicas.
O que quero dizer com isto? É que se temos uma feira de sucesso em Cantanhede, a pouco mais de 15 quilómetros de Coimbra, fará sentido continuar a pensar que aquela cidade não faz parte do raio da cidade dos estudantes? O problema é continuamos todos a pensar pequeno. Com um nacionalismo exacerbado e um bairrismo pacóvio que nos há-de levar à falência.
Se realmente se quer continuar com a CIC, então, nesse caso, reinvente-se. Como está não pode continuar.

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