sexta-feira, 17 de abril de 2009

UMA IMAGEM CAPTADA AO ACASO...


(CLIQUE NA IMAGEM. SINTA A TRISTEZA DAS PEDRAS DO CHÃO)


A Rua Martins de Carvalho (antiga Rua das Figueirinhas), junto e ao lado do Café Santa Cruz, é uma amostra do que foi em tempos.
Até há cerca de vinte anos, era passagem obrigatória para o Mercado Municipal. Como esta “feira” da cidade entrou em processo acelerado de abandono dos conimbricenses, motivado pelos novos costumes, em consequência, esta artéria acompanhou o mesmo processo de decrepitude.
Esta rua, outrora pujante e cheia de vida, metaforicamente, é hoje como uma pessoa velhinha que sofre de Alzheimer e se arrasta pelos corredores do tempo à espera da morte.
Nem o paliativo, representado pelo calceteiro, evitará o seu derradeiro final. Se tivermos em conta que o patrono desta ruela foi Joaquim Martins de Carvalho, director do Jornal “O Conimbricense”, um homem que amava a cidade e cujos editoriais ajudaram a desenvolver a Lusa Atenas em finais do século XIX, e se eventualmente regressasse do além, à sede do jornal, dava-lhe um baque.
Alguma coisa terá de ser feito com urgência para dar vida a estas ruas da cidade, carregadas de história e que nos últimos anos se transformaram em cemitérios de vivos-mortos, onde não falta a senhora vestido de preto enlutado. Onde os reclamos nas paredes podem simbolizar as lápides com inscrições tumulares de comércios que morreram, como o Timex, sem pompa, sem glória, numa guerra fratricida de consumo. Onde não falta a alegoria ao Espírito Santo (no toldo da tabacaria) ou o “deus-ferro”, “paradigmatizado” nas grades das varandas a lembrar uma actividade que foi marca na cidade de Coimbra e na sua defesa Martins de Carvalho tanto se bateu.
Vá lá! Conserva ainda o empedrado centenário, a mostrar o tapete que se estendia a toda a Baixa e que, há dez anos, foi substituído noutras ruas por pedrinhas sem história. Provavelmente, por ser um local de silêncio, de esquecimento, que conduz à terra do nada e do vazio.
“Se esta rua fosse minha”, como se trauteia a canção, tenho a certeza que no mínimo a levava a fazer terapia. Esta rua está profundamente deprimida. E será só esta? E os seus residentes não sofrerão a mesma doença da artéria doente? E serão só estes? Será que todos os residentes da cidade velha não estarão endemicamente às “portas da morte” pelo abandono a que foram votados? A tristeza das ruas é apenas a materialização, o lado vísivel, do estado anímico de quem, se arrastando, tenta sobreviver nelas…

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