quarta-feira, 15 de abril de 2009

UM ITINERÁRIO (A) COMPLEMENTAR A DESORDEM



“Segundo o Diário de Coimbra de hoje, “Os moradores da Rua 10 de Junho, em Santa Clara, apelaram ontem a uma “rápida intervenção” da Câmara Municipal de Coimbra para resolver problemas causados pelas obras de construção do IC2 naquela zona da margem esquerda da cidade. Num abaixo-assinado entregue ontem ao executivo camarário, os moradores daquela rua, situada na zona dos Alqueves, reclamam a “limpeza constante e diária, para evitar que a lama ou o barro se acumule na via, e que evite que a poeira ande no ar”.
Lembro que esta construção, em viaduto de 40 metros de largura, pretende atravessar a Mata Nacional do Choupal numa extensão de 150 metros e está a ser contestada por um movimento cívico, a Plataforma do Choupal, que reivindica, entre outras premissas, a não violação desta mata Nacional.
Como se sabe, aquando da construção da ponte-açude nos idos anos de 1980, já nessa altura o Choupal sofreu danos considerados irreversíveis e foram contestados por vários biólogos, entre eles, um de grande craveira nacional e internacional, Jorge Paiva. Devido à falta de irrigação várias árvores de grande porte morreram.
Prevê-se, e novamente com o testemunho de Jorge Paiva, que este atentado ao nosso ícone da memória, cantado por poetas e trovadores há quase dois séculos, vai trazer mazelas à mata de consequências imprevisíveis.
Para além disso, argumenta a Plataforma do Choupal que não faz sentido um novo itinerário complementar (IC2) ser construído ao lado de outras vias e a atravessar a cidade. Faria sentido, isso sim, se passasse longe da cidade de Coimbra, já de si demasiadamente complementada com um trânsito caótico diário. Esta nova via, em vez de vir resolver alguma coisa à cidade, pelo contrário, vem complicar, não só em termos viários como também ambientais.
É estranho, argumenta a Plataforma, que num a altura em que se defende a qualidade de vida ambiental, o governo, com o beneplácito do executivo conimbricense, “se decida uma obra que é francamente negativa para a cidade dos estudantes”.
Embora a decisão a nível político esteja tomada, lembro que pode sofrer um revés. É que, há menos de um mês, foi intentada uma acção popular no Tribunal Administrativo e Fiscal de Coimbra. Os sete signatários, contestando a Declaração de Impacte Ambiental (DIA), acreditam na sua procedência.
Até agora o executivo de Carlos Encarnação, apesar de ser instado a tal, escusou-se a debater este assunto a nível público. Para o presidente da autarquia esta construção não merece contestação. Está projectada, aprovada e ponto final e parágrafo. Segundo as suas declarações, citadas de memória, “só os arruaceiros do costume contestam esta obra tão importante para a cidade”.
Será assim? Será que os contestatários serão mesmo arruaceiros? O que ganharão eles? Protagonismo e visibilidade política? Para que fim? Se tivermos em conta que a plataforma é constituída por pessoas de várias sensibilidades partidárias que, apesar de lhes ter sido oferecido cargos políticos nos aparelhos partidários, recusaram-nos. O que os moverá então?
Para mim, que não sou isento nesta questão e os conheço a todos, digamos que são a projecção materializada de vontades não realizadas que existem dentro de cada um de nós. São um bom exemplo para os nossos filhos na defesa e intervenção de uma sociedade que não deve ter medo de pugnar. Se calhar serão os novos Quixotes hodiernos. Sem capa, sem espada, a lutarem contra o vento ditador avassalador modernista que esmaga tudo o que for diferente. Largam o sofá e a telenovela –denegando serem treinadores de bancada a brandir veneno sem efeito contra os políticos. Vão à luta, prejudicando as suas vidas pessoais e financeiras. Esgrimem argumentos válidos em defesa daquilo em que acreditam. Mostram verdadeiramente nos actos amar a sua cidade com lealdade e profundidade “do Choupal até à Lapa”.
Serão, “esta gente”, arruaceiros?

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