sexta-feira, 3 de abril de 2009

QUANDO O MAU EXEMPLO VEM DA TORRE




“É a terceira mais antiga Universidade da Europa. A Universidade de Coimbra nasceu através do pergaminho “Scientiani Thesaurus Mirabilis”, pelo qual o Rei D. Dinis criou, em 1 de Março de 1290, os Estudos Gerais (a Universidade Portuguesa) em Lisboa. Este diploma régio não só anunciou a criação da primeira escola universitária do país como também de uma das mais antigas da Europa, confirmada a 9 de Agosto de 1290 pelo Papa Nicolau IV. Os Estudos Gerais foram transferidos para Coimbra em 1308 e trinta anos depois D. Afonso IV levou-os de novo para Lisboa. Este monarca (mais tarde) fez regressar os Estudos Gerais a Coimbra e, em 1377, D. Fernando mudava novamente a Universidade para a Capital. Em 1573, os Estudos Gerais instalavam-se definitivamente em Coimbra, e os paços reais, também conhecidos como Paços das Alcáçova são cedidos por D. João III para neles se estabelecer a Universidade. É aí que até hoje se encontra a cidade universitária, antiga praça-forte medieval, rodeada por torres, uma das quais se tornou na “cabra”, velha torre com o seu relógio, imagem de marca da tradicional academia” –in site da Associação de Estudantes Cabo-Verdianos em Coimbra.
Se, através deste texto, por um lado, ficamos a saber que as actuais deslocalizações de direcções-gerais de Coimbra para Lisboa têm a ver com o passado genético, por outro, vemos bem –no final do texto- a importância do relógio (a Cabra) instalado na torre que domina a colina universitária.
Tendo em conta a vetustez do velho torreão, naturalmente somos levados a pensar na máquina que acciona os ponteiros que dão horas aos estudantes –há cerca de um século indicava a hora de recolha- e à cidade. Deve ser muito antiga, interrogamo-nos, divididos entre a curiosidade e o desejo de saber. Afinal, a Universidade pode representar para Portugal e sobretudo para Coimbra o paradigma da cultura. É verdade sim. Este monumento nacional é realmente o modelo de cultura físico e intelectual. Mas “em casa de ferreiro espeto de pau”. O que quer dizer isto?, parece você interrogar-me. Já explico.
Se lhe disser que o relógio da torre da Universidade é accionado por um mecanismo electrónico, uma pequena caixa digital, que acciona os ponteiros e faz emitir o som da “Cabra”, isso causa-lhe alguma admiração? Já vi que não. Até o entendo. Afinal a electrónica está para o nosso dia-a-dia como o ar que respiramos, e, nesse aspecto, até o entendo.
Mas se lhe disser que a velha torre tem uma raridade de relógio, uma peça emblemática a nível mundial –um Borrel-Vagner de 1867- que está parado, e até nem precisa de grande restauro para funcionar, isto já o escandaliza? Pela sua reacção, já vi que sim. Pois a mim também. Só desleixo e o desinteresse pelo património público podem justificar –o injustificável- que uma preciosidade como esta não esteja a marcar horas na mais antiga universidade portuguesa. E o mais grave, é estar a ser substituído por um “cacareco” electrónico ligado a uns motores eléctricos que fazem andar os ponteiros. É uma vergonha, não acha? Olhe, faça-me um favor: não diga nada ao Rei D. João III. Ai se ele sabe?! Ainda se levanta do túmulo e vem chatear estes (maus) conservadores do património…

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