quarta-feira, 1 de abril de 2009

OS (NOVOS) RUÍDOS (INVASORES) DA BAIXA


(O LUIS MIGUEL, MAIS CONHECIDO PELO "ASPIRANTE")



(O GERALDO, "O TENOR")


 Hoje, de manhã, o Geraldo -um daqueles personagens típicos que povoam as cidades e que já falei aqui no blogue, é um “homenzarrão” de voz potentíssima, que anda por aqui, de tempos a tempos-, com a sua voz de tenor, “abanava” os inertes prédios e a passividade melancólica da zona histórica. Este homem, segundo a minha classificação, é uma criança crescida. Não faz mal a ninguém. Quer é um pouco de atenção. Se lhe damos um pouco de carinho, segue-nos para qualquer lado.
Como sempre, hoje, chegou ao pé de mim e, com a sua voz rouca, à Al Pacino, roga: “não me dás uma moeda? É que tenho de comprar um acordeão”.
Então, mas sabes tocar?, interrogo. “Claro que sei, até toquei num rancho de Condeixa”. Fiquei na dúvida. No entanto, uma coisa se salienta, este homem –com um aparente “atraso”- tem “bom ouvido” para a música. Para além de tocar bem harmónica, nota-se, que sabe colocar bem a voz a cantar.
Depois de lhe pagar uma bebida lá foi ele a tocar pandeireta, intervalado com a flauta “de beiços” e a cantar.
Numa rua próxima, ouve-se um grito, meio rouco e fantasmagórico, do “aspirante” –assim chamado porque, segundo parece, foi aspirante na tropa e teve um acidente que o incapacitou mentalmente-, o Luís Miguel, um rapaz com cerca de 30 anos, com vários “percings” nas orelhas, que quando “anda bom” não faz mal a ninguém. Chega ao pé nós, fazendo uns trejeitos de menino, alinhado numa voz embevecida, solicita: “ mi dá “xinquenta!”, mi dás? Tu és Deus…tu és tio-avô”. Se nós dizemos que não temos, empertiga-se, engelha o rosto, toma um ar de duro, aponta o indicador, e interroga: “mi dás “manhã”?...tês ó quato?” Volta a insistir, “tês ó quato?”. Se respondemos uma delas, três ou quatro, lá vai ele, de passo trôpego, como se fugisse de alguém, tentando ir “cravar” outro.
Quando está embriagado, grita, -como hoje faz- como se estivesse frustrado, com uma voz cavernosa e prolongada. Quem não o conhecer, chega a assustar. Muitas vezes, chega a ser violento. Já tem partido alguns vidros.

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