quinta-feira, 30 de abril de 2009

ANDAR NA TERRA COM A CABEÇA NO CÉU




Não sei se já se aperceberam que ultimamente se vêem cada vez mais pessoas com audiofones nos ouvidos. Passam por nós na rua como zombies que não pertencem a este mundo. Nalguns a música está tão alta que, para além de incomodar, tendo de a “gramar”, é invasora do nosso espaço individual.
Se entrarmos num qualquer transporte público, e um lugar estiver vago, embora os outros estejam completos e até algumas pessoas viajem de pé, só quando nos sentamos naquele lugarzinho guardado para nós, percebemos a razão de ninguém o querer. É que o barulho é ensurdecedor. Estoicamente, lá aguentamos para que ninguém olhe para nós. Não vão os outros pensar que somos fracos e que é um qualquer “ruidozeco” que nos derruba.
Confesso que já me falta a pachorra. Começa-me a saltar a tampa, sobretudo quando alguém tenta falar comigo com as palas –como os burros- nos ouvidos. Começo por dizer que não estou a ouvi-lo. Se a coisa persiste, passo-me e digo-lhe: olhe lá, não se importa de falar comigo sem essa coisa nas orelhas? “Ai desculpe!, até me tinha esquecido”, tenta safar-se o meu interlocutor.
O que me chateia mais é que até pessoas de meia idade –onde normalmente pensamos que reside a virtude, a reserva moral da Nação- estão a embarcar na viagem de “pés-na-terra e cabeça-no-céu”. Isto é que é uma sorte! Parecem bandos de marcianos descarregados por acidente no solo terreno.
O problema é que começa a ser grave. Há três semanas, uma senhora da Europa de Leste, de trinta e poucos anos, morreu trucidada por um comboio, em Coimbra, porque levava nos ouvidos o tal “cabresto”.
Não sei se esta moda é consequência ou não da crise económica e existencial –devido às constantes ameaças de pandemia que nos atropelam. O que sei é que parece uma droga. Com cada vez mais aderentes, todos querem “isolar-se”, fugir de qualquer maneira, desta realidade que parece ficção, do meio em que estão “agarrados” e é impossível desligarem-se.

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