sexta-feira, 6 de março de 2009

BAIXA: TRÊS NOTÍCIAS, UMA BOA, UMA MÁ E UMA ASSIM, ASSIM

(OS MARTHAS COM A PLACA DE "VENDE")

(A TABACARIA DA LENA)

( A LOJA ONDE VAI NASCER O PÃO)

(A RUA DOS OLEIROS)


Vou começar pela notícia boa. A Rua dos Oleiros, poucos saberão, mas foi o berçário da mais importante indústria de Coimbra: a Triunfo. Esta marca foi um ícone em todo o nacional e além-fronteiras. Foram célebres as suas massas e as suas bolachas Maria e Araruta. O golpe derradeiro da sua extinção foi a demolição da fábrica há cerca de meia dúzia de anos na Rua dos Oleiros. Como cratera de bomba lançada na segunda Guerra Mundial, o buraco lá permanece entaipado, talvez à espera do metro de superfície, ou dos centímetros que o tempo, momento a momento, como cavaleiro andante, vai cavalgando e deixando para trás uma memória de glória industrial.
Depois do desaparecimento da Triunfo, posteriormente, o edifício foi, durante anos, utilizado como parque de estacionamento. A seguir à demolição, a Rua dos Oleiros transformou-se numa artéria com saída para o silêncio de uns barracões abandonados pela marca Peugeot.
Construiu-se um grande edifício com várias lojas de comércio por baixo, mas devido à pouca passagem de pessoas, praticamente nunca deram certo. Há anos que o maior de todos os espaços permanece encerrado.
Hoje, quando fui comprar o jornal ao “quiosque da Lena”, esta estava toda feliz. “Já ganhei o dia hoje”, diz-me num sorriso esfusiante. Porquê?, interrogo. Afinal, se me guiar pelo sorriso, nem me admira nada. Esta mulher, por incrível que pareça está sempre a rir. Mas a bom rir, de bandeiras desfraldadas. A simpatia e o seu sorriso são armas que, duma forma inteligente, utiliza muito bem. “Vai abrir na loja grande uma Padaria e Pastelaria, já viu o cartaz?”, interroga-me, para me alertar. A verdade é que passei mesmo ao lado e não notei. “É a nossa salvação, a minha e a desta rua. Que Bom! Estou mesmo contente. Depois esta notícia boa, pode vir a pior de todas que já não me derruba”, perora a Lena, enfaticamente.

A notícia má: segundo os dois jornais diários da cidade, O Diário de Coimbra (DC) e as Beiras, os Marthas, talvez a casa mais antiga da Baixa, com quase 90 anos vai encerrar na próxima terça-feira, passando os artigos de papelaria desta emblemática casa a ser vendidos na Adémia.
Por volta do mês de Setembro, do ano passado, foi anunciado que esta casa, com marca de renome, iria encerrar a sua loja na Baixa em Outubro. Depois foi anunciado pela gerência que, tentando colaborar na revitalização da zona histórica, iriam continuar abertos. Infelizmente, tendo em conta este anunciado, vai mesmo encerrar.

A notícia assim, assim: segundo o DC, “O espaço da Praça do Comércio foi arrendado a outra empresa e deixará de ostentar o nome da Marthas a partir de quarta-feira”.
Ora bem, se assim for, se foi mesmo arrendado a outra empresa, perde-se o nosso avô querido, mas ganha-se um neto. O problema é se a história estiver mal contada. E porque escrevo isto? É que no vidro do estabelecimento, hoje, pode ver-se a placa de “VENDE”.

1 comentário:

Anónimo disse...

Passei lá um dia destes, veja bem à quanto tempo não iamos à Baixinha (grande parte da nossa adolescência foi aí passada) e passeavamos na Praça oo Comércio e comentamos, eu e a minha mulher, sobre os "Marthas". Exclamamos: ainda subsistem! Talvez pela especificidade da loja - disse-me ela. Lá se foi mais uma especificidade díficil de encontrar. Lá teremos que ir à Adémia. A especificidade da nossa cidade agora é a perca de identidade.