terça-feira, 3 de março de 2009

BAIXA: MEDINA AQUI TÃO PRÓXIMO










 Quem passar pela primeira vez na Praça 8 de Maio, quase de certeza que, numa escala de prioridades visuais, o seu olhar, primeiro, começa por cair na magnífica Igreja de Santa Cruz, segundo, no café com o mesmo nome e a seguir, inevitavelmente, vai cair no prédio do Olímpio Medina.
 Este imóvel, construído provavelmente em meados do século XIX, encaixado, tem uma edificação muito comum nos centros históricos, que é o seu aproveitamento na vertical. Como em largura o seu espaço é exíguo, entre dois prédios, o seu proveito útil, em termos de divisões, era feito através do crescimento em altura. Se repararmos no estilo de construção, facilmente nos parece “Arte Nova” o que quer dizer que, ao longo da sua existência, foi sofrendo alterações e a última poderia perfeitamente ter sido entre 1920 e 1940.
 O interior deste “sui generis” estabelecimento de instrumentos musicais, único na Baixa e o mais antigo da cidade, num respeito pela traça antiga, para além do mobiliário em madeira, conserva ainda os seus belos tectos em gesso.
 Em conversa com o seu proprietário, o senhor Olímpio Medina, a meu pedido, vai-me contando a história deste “museu interactivo”. O passado desta loja de tradição quase que se confunde com a do seu proprietário actual.
 A firma Olímpio Medina foi fundada em 1920. Começou por ter a sua sede na Rua Visconde da Luz até 1925. Nesta altura, e definitivamente, assentou arraiais na Praça 8 de Maio.
 Os fundadores deste estabelecimento foram o Olímpio Medina e a esposa. Talvez pelos tempos difíceis que atravessavam, eram pessoas de tratos muito duros e austero. Quis a sorte ou o acaso que o casal Medina não tivesse descendentes e, nos primeiros meses do ano de 1950, decidisse dar o seu nome e apadrinhar um rebento nascido há pouco. O negócio foi crescendo, impondo no meio musical da cidade, e acompanhando o mesmo ciclo de crescimento do puto baptizado então com o mesmo apelido. As relações entre afilhado e padrinhos, devido à carência de emoção dos últimos, eram tão pouco espontâneas que “quando passava aqui, à frente da montra, tremia todo de medo”, refere aquele que viria a ser o herdeiro.
 O puto vivaço Olímpio Medina, então com 14 anos, por razões conjunturais, foi viver para Santarém, onde estudou. Aos 19 anos foi trabalhar para o Instituto Nacional de Estatística (INE). No início da década de 1970 casou em Coimbra e, juntamente com a esposa, foram viver para Mem Martins. Continuou a trabalhar para o INE. Como ganhava pouco, fez uns contactos e estava tudo preparado para ir trabalhar para a Tabaqueira. Deu-se o 25 de Abril e esse ingresso foi gorado com todas as alterações de chefias que percorreu o país. Algumas delas a serem presas por colaboracionismo com o antigo regime.
 Em 1977 largou então o INE e, através de um amigo, foi trabalhar para a Setnave, que, nesta altura, apesar de conturbada pelo período revolucionário, pensava-se que estaria a arrancar com toda a pujança. Porém, em 1982 aquela grande empresa industrial entrou em colapso financeiro. Entretanto, por esta altura, uns meses antes, tinha falecido o velho Olímpio Medina. A viúva, com o estabelecimento nos braços, estava pronta para o vender a quem desse mais, embora quem estava na corrida era a Sasseti e a Valentim de Carvalho.
 O sucessor do velho com o mesmo nome vem a Coimbra falar com a madrinha para adquirir o estabelecimento. Mas esta é que não estava pelos ajustes. Pouco lhe importava os laços de apadrinhamento ou apelidos. Queria dinheiro. Isso é que lhe importava. Não confiava em ninguém e muito menos no afilhado.
 Com muito sacrifício em convencer a velha senhora, Olímpio, o novo, conseguiu que esta lhe desse o prazo de três anos para pagar. Sem medo, nada percebendo de instrumentos musicais, chamou a si a tarefa de levar o barco a bom porto. E tudo correu bem até hoje. A casa Olímpio Medina continua a ser um “ex libris” em Coimbra e um embaixador no mundo inteiro.
 Apesar da crise que atravessa todas as áreas, felizmente, a empresa vai muito bem. “O pior são os pagamentos das colectividades e filarmónicas, que, coitados, querem pagar mas não podem”, refere o senhor Olímpio.
  Quando pegou nesta empresa, em 1982, tinha 6 empregados. Apesar dos tempos negros que se vive, hoje, continua com 5. Três na oficina, de restauro de piano, saxofone, clarinete e todos os instrumentos de sopro e cordas, e dois ao balcão, a atender o público, a Cristina e o António, cada um com seu sorriso, uma simpatia de prestabilidade só passível de encontrar nesta zona de antanho.
 Para a Baixa é uma honra ter no seu património comercial uma casa tão antiga e com o historial do Olímpio Medina.


1 comentário:

Anónimo disse...

Olá,

Moro no Brasil e tenho um Banjo comprado por meu avô em 1969 nesta loja citada. Gostaria de saber como entro em contato, se possuem algum email.

meu email é rrcaseiro@hotmail.com

Grato,

Rodrigo.