quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O METRO E A JOANINHA






Lendo o título até parece que vou contar uma história e vou começar por “Era uma vez”. Embora seja de facto uma história, não é ficcionada, trata-se de uma realidade. Conta e mostra a insensibilidade de pessoas, que estando à frente de empresas públicas, não têm o mínimo respeito, condescendência e sensibilidade pelos privados.
A história que aqui vou contar tem dois personagens, a Metro Mondego, uma sociedade do sector empresarial do Estado e uma loja, de nome Joaninha, que durante cerca de três décadas existiu na Praça 8 de Maio, em Coimbra, até Setembro do ano passado. Este estabelecimento de brinquedos, com o João Monteiro como timoneiro à frente de vários empregados, durante os cerca de trinta anos de existência, foi o anfitrião da visita amiúde de muitos conimbricenses acompanhados dos seus filhos e netos.
Segundo conta o João Monteiro, como o traçado do futuro Metro de superfície, em princípio, iria passar por aquele espaço, depois de anteriores tentativas goradas de negociação entre aquela empresa e o gerente da Joaninha, nos começos de 2008, recomeçaram as pressões por parte da empresa “Metro”, com recurso a ameaças de que “ou aceita o que lhe propomos ou vamos para a expropriação”. “De tal modo foram obstinados e insistentes que acabei por aceitar o acordo, ainda que à partida soubesse que para além de me ser desfavorável, e que neste contrato –que assinei em Julho- perdia trinta anos de vida, tinha noção de que estava a ser “coagido” a assinar pelas constantes ameaças do tribunal”, desabafa comigo o João Monteiro.
Continua o João, “depois de ter assinado, queriam que eu saísse logo em Agosto, porque havia estudos geológicos para fazer, argumentaram. Eu disse que era impossível, pois tinha a loja cheia de mercadoria e não podia, de um dia para o outro, agarrar naquilo tudo e pôr, sabia lá onde. Argumentei que me fosse permitido continuar lá até ao Natal para ver se escoava o máximo de produtos. Disseram-me: “então, vá-se deixando estar que depois avisamos. Fiquei convencido que ia poder fazer a época natalícia. Meia dúzia de dias antes de terminar o mês de Setembro recebi um ultimato: tinha de sair até ao fim do mês, porque iriam começar os estudos geológicos. À pressa, tive de retirar tudo, pedindo a vários amigos que, nas suas garagens, espalhadas pela cidade, me guardassem a mercadoria. Como a contrapartida que recebi mal deu para pagar aos fornecedores os artigos que pensava poder vender no estabelecimento até ao Natal, hoje tenho imenso artigo e, devido às obscenas rendas pedidas na Baixa, não consigo uma loja na zona histórica onde possa escoar os meus brinquedos”.
Continua o João Monteiro, “repara, estamos em 14 de Janeiro, ou seja, passados quatro meses, e, na minha antiga querida Joaninha, o amor da minha alma, tudo continua na mesma. Até agora, nada lá fizeram. Porque me obrigaram a sair assim a correr?” –interroga o meu amigo João, com as lágrimas prestes a desabar daqueles olhos sem brilho e esmorecidos. “Estou a baixar os braços de dia-para-dia. Estou sem forças. Esses fulanos deram cabo da minha vida. Porque me fizeram isto?”, repete sem cessar.



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