sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

BAIXA: UM PROTESTO COMERCIAL NA ESCURIDÃO DA NOITE



Nos últimos meses, quem à noite tem passado pelas ruas da Baixa de Coimbra verifica que são imensas as lojas com as luzes das montras totalmente apagadas.
Não é preciso pensar muito para ver que estamos em presença de uma poupança forçada, uma vez que os comerciantes do comércio tradicional já cortaram tudo onde podiam poupar. Numa ordem arbitrária, começaram no corte de publicidade, na assinatura de jornais, a seguir no despedimento de funcionários, no corte de telefone fixo –há muitas lojas que já não têm telefone-, durante o dia no apagamento de lâmpadas desnecessárias e consideradas supérfluas e agora no apagamento nocturno de luzes das montras -pelo menos pensava eu que assim era.
Há cerca de um mês, em conversa com o presidente da Junta de Freguesia de São Bartolomeu, Carlos Clemente, acerca deste assunto, chamava a minha atenção para este facto. Considerava este autarca que este acto de completo apagamento de montras era algo miserabilista por parte dos comerciantes. Transmiti-lhe algumas conversas que tinha tido com alguns colegas e este tinham-me perpassado a sua impotência perante este facto. Ou seja, era imperioso poupar a todo o custo. Um até me interrogou em provocação: “pagas a minha luz? Se pagares eu deixo tudo aceso”. É lógico que entendi e fiquei sem argumentação.
Quando passei esta informação a Carlos Clemente, ele próprio não entendeu e exclamou: “bolas!, se não podem acender um projector acendam ao menos uma lâmpada de poupança. Isto transmite demasiado uma ideia miserabilista da Baixa. Além disso, propicia um ambiente óptimo para os assaltos”, remata o edil, representante dos fregueses de uma das freguesias da Baixa.
Porém, hoje, ao comentar uma notícia, no Diário as Beiras, de um encerramento de mais uma loja na Baixa, em conversa com um comerciante, o Jorge Eliseu, com um estabelecimento de carteiras na Rua das Padeiras, para minha surpresa, fiquei a saber que, sub-repticiamente, está em marcha uma revolta silenciosa, no calor da noite, que, segundo as suas palavras, há cada vez mais comerciantes a aderir: “se ninguém se importa comigo, eu tenho que me preocupar com a iluminação social das ruas da cidade? Como eu, está fulano, sicrano e beltrano a fazer a mesma coisa -citando-me os nomes que olvido. Depois do encerramento das lojas desligamos todas as luzes. Pode ser que assim, quem manda, veja o nosso empobrecimento diário, a nossa tristeza e revolta pelo abandono a que estamos votados”, conclui o Jorge Eliseu.

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