quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

NA BAIXA, VALE A PENA SER TEIMOSO



O senhor Rui Silva é o proprietário da papelaria Papyrus, na Avenida Fernão de Magalhães, a dois passos dos Bombeiros Voluntários. Na noite de 2 de Dezembro (já o tinha contado aqui) teve uma tentativa de assalto frustrada. Nessa noite tentaram entrar no pequeno estabelecimento de jornais e revistas, mas, como as grades de protecção são muito fortes e, para além de cadeados têm chaves interiores, não conseguiram entrar.
Mas como o à vontade é tão grande de quem anda no gamanço que vale a pena ser persistente –pessoalmente, ainda que seja uma tese contestável, continuo a pensar que só não há mais assaltos porque há mesmo poucos assaltantes a operar na Baixa. Se houvesse mais, isto seria uma razia completa. Não existe qualquer segurança nocturna por parte da PSP. Os assaltantes, diga-se sem peias, agem completamente em liberdade em qualquer ponto da zona histórica. Eles assaltam cafés, frutarias, roubam presuntos em armazéns, roubam tabaco, louças, jornais e revistas, na mais completa paz dos anjos.
Voltando ao senhor Rui Silva, cujo estabelecimento é na maior avenida da Baixa e com maior movimento e a vinte metros do Quartel dos Bombeiros Voluntários, na noite de 27 deste mês de Dezembro, os ladrões, no mais completo sossego, tentaram arrombar os painéis exteriores do estabelecimento –as marcas estão lá bem visíveis-, mas como não conseguiram, entraram pela porta principal e desta vez rebentaram os cadeados e fechaduras interiores, a grade de ferro que é fortíssima, entraram no pequeno quiosque e levaram tudo o que tinha valor. Ou seja, cerca de 1500 euros em tabaco, louças decorativas, algumas revistas. Teve um prejuízo de mais de 2000 euros. Agora pasme-se: como a máquina registadora estava fechada, tranquilamente levaram-na consigo.
Para azar do senhor Rui o alarme, recentemente adquirido, da SecuritasDirect, com serviço ligado a uma central, de vinte e quatro horas, e recurso a videovigilância por foto, não funcionou.
Pensem um pouco comigo: para fazer tudo isto foi preciso muito tempo. Ora, numa artéria de largo movimento, como é isto possível? Se calhar é porque ninguém se importa com nada, pelo menos se não lhe disser respeito. Para onde caminhamos? Não sei. Sem querer ser pessimista, mas prevejo que a curto tempo as montras de vidro desaparecerão da cidade, e, a ser assim, pensem um pouco, como será andar à noite? Quem vai andar por aqui? Estou a ser um apologista da desgraça? Se calhar estou, mas é triste que quem está à frente da cidade –o presidente da Câmara, o Governador Civil, o Comandante da PSP e o Director da Polícia Judiciária- não vejam isto. Digo “à frente da cidade” porque infelizmente não é apenas um problema da Baixa é de toda a cidade de Coimbra. Para onde caminhamos e que cidade, enquanto ponto social de convergência humana, estamos a construir? Talvez fosse altura de se convocar a sociedade civil para debater este problema. Atribuir culpas aos códigos de Processo e Penal é escamotear a questão no seu essencial. É uma deriva que já vem detrás. Esta busca obsessiva pelos direitos humanos, no sentido da desvalorização do acto contra-ordenatório há-de levar á falência deste modelo societário que estamos a viver. Esperem para ver…

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