quarta-feira, 12 de novembro de 2008

QUE JUVENTUDE QUEREMOS?





Esta interrogação, que de milénio em milénio, continua e continuará sem resposta para os presentes e para os nossos descendentes. Com a responsabilidade a girar entre três pólos triangulares, Família, Estado e Sociedade, esta questão tem vindo a prolongar-se ao longo dos séculos.
Sócrates, filósofo ateniense, quinhentos anos antes de Cristo, na sua imensa sabedoria, afirmava que a excelência moral era uma questão de inspiração e não do parentesco familiar. Segundo este fundador da filosofia ocidental, por mais moralmente perfeitos que fossem os pais podiam não ter filhos semelhantes aos seus atributos morais e éticos.
Já no tocante à responsabilidade do Estado na formação educacional dos jovens, poderemos começar em Esparta, também na Grécia antiga, entre cerca de sete e cinco séculos antes de Cristo. O governo espartano tinha como objecto fazer dos seus cidadãos modelos de homens. Como soldados deveriam ser bem treinados fisicamente, onde a coragem predominasse, e, para além disso, deveriam ser obedientes às leis e à autoridade. A disciplina era condição “sine qua non” para ser bom cidadão, onde os seus direitos políticos, a sua intervenção na vida pública, dependiam directamente do seu “modus vivendi” disciplinar em sociedade.
As influências da sociedade na educação tomaram um novo rumo, passando a ser “caso de estudo” continuado, sobretudo a partir do Iluminismo francês, no século XVIII, nas questiúnculas travadas entre o genebrino, de antepassados franceses, Jaques Rosseau (1712-1778) e o Inglês Thomas Hobbes (1588-1679), no dissecar do empirismo materialista, na procura e defesa do culto da razão. O primeiro defendia que, nascendo puro e bom, o homem, na luta e procura obsessiva pelo interesse pessoal, era corrompido pela sociedade, que, trazendo ao de cima a sua competitividade animal, o embrutecia e o tornava cruel e mau.
Por seu lado, Hobbes acreditava que o homem, genético-hereditariamente, nascia mau. Na sua crueldade, “o homem chegava a ser lobo do homem”, onde prevaleciam os seus maus-instintos irracionais. Ao soberano (um século depois, Estado-Nação) a quem deveria deter todo o poder absoluto e centralizado, cabia-lhe, através da força normativa, “domar” os seus instintos e fazer dele um ser sociável.
A partir da Revolução Francesa, de 1789, no âmbito da “doutrina” iluminista, até ao primeiro quartel do século XX, a educação do homem assentou no sistema de pensamento da igualdade e liberdade, à luz da razão, seguindo a filosofia de Descartes, “pai” do racionalismo da Idade Moderna, e rompe quase com os princípios teocráticos.
A partir de 1922, com a subida de Mussolini ao poder em Itália, a Europa, exceptuando a URSS, através da sua revolução Bolchevique de 1917, inicia um movimento de corte em oposição ao liberalismo, ao socialismos e a qualquer forma de governo democrático: o fascismo.
Como num eterno retorno, a filosofia deste movimento, para além de outras, assenta num novo triunvirato: Pátria, Deus, Família. É ao Estado que compete a direcção de todas as actividades da nação. A educação, ainda que fortemente elitista, manipulada e inquinada com o sistema vigente, como baluarte da outrora disciplina espartana, é o “primus-inter-primus” do novo regime ditatorial que atravessa a Europa a seguir à primeira Grande Guerra, a depressão de 1929, e que, com o armistício da Segunda, alguns claudicam, nomeadamente Itália e Alemanha.
Por volta do terceiro quartel do século passado, com o cair de vários regimes autoritários, na Europa, entre eles Portugal, Conquista-se a democracia. Ou seja, envereda-se por uma nova forma de neo-iluminismo, um novo liberalismo, assente no individualismo, na igualdade de oportunidades, na laicidade dos Estados e…na economia de mercado.
Abandona-se a educação, enquanto premissa fundamental de uma Nação de direito, num mar de políticas ao sabor dos ventos e marés. O Estado, mais preocupado com direitos, liberdades e garantias e, sobretudo com a democratização de livre-acesso de todos ao ensino, básico e secundário, escamoteia as linhas mestras dessa mesma educação. Ao longo de mais de três décadas, num desnorte, aposta tudo na generalidade do conhecimento e saber intelectual dos alunos, em detrimento do adquirir saber na área profissional e, naquilo que é mais importante: a sua formação educacional e cívica, enquanto futuros cidadãos na sua correlação em sociedade.
Por outro lado, por incrível que pareça, vão-se arrogando direitos e mais direitos –sem a proporcional obrigação- aos filhos e alunos menores. Por antítese, vão-se derrogando (suprimindo) direitos aos pais e professores. E, para mais incrível ainda, aumentam-se-lhes as suas obrigações. Quase como uma paródia social, assistimos a miúdos, de menos de uma dezena de anos de idade, a ameaçar os pais de queixa à linha azul da protecção de menores. Nas escolas, como todos assistimos, vimos professores a serem agredidos física e verbalmente sem que nada, ou quase nada, para além da participação judicial, possam fazer.
Em conclusão, à pergunta “que juventude queremos?”, deixo a resposta a cada um que chegou até aqui.
Limitei-me a ir lá ao “fundo”, à história, para melhor se entender, depois, aparentemente, sem formar juízos de valor, tentei indicar as linhas condutoras que, quanto a mim, desde há mais de três décadas, através das políticas educacionais emanadas do Ministério da Educação, conduziram à juventude que temos.
Esta juventude, de hoje, é boa, é má, é melhor que a anterior, será pior do que a que esperamos no futuro? Não sei! Não escrevi este texto para dar respostas concretas.
Se ajudar alguma coisa, posso afirmar que estas questões, de que esta descendência actual é muito pior do que as ascendentes anteriores, em contínuo conflito de gerações, já vem sendo desvalorizadas desde o tempo de Sócrates, o “outro”, o filósofo, que existiu cinco séculos antes de Cristo.

2 comentários:

D'artagnan disse...

Objectivamente, nunca poderá existir uma boa ou má juventude. Aquilo que há actualmente é uma espécie de "ode" à irreverência em que "irreverência" pode ser lida como "irresponsabilidade", "má educação", "desrespeito", etc, etc, etc...

Mas não podemos esquecer igualmente o seguinte: assim como o conceito de juventude se vai dilatando à medida que vamos ficando mais velhos, alguns dos "jovens" também se esquecem que um dia serão "adultos" e terão de lidar com outros jovens.

E quem semeia ventos....

LUIS FERNANDES disse...

Obrigado por ter comentado. Um abraço.