quinta-feira, 6 de novembro de 2008

ÍCONES DE UMA CIDADE


(A PHARMÁCIA NAZARETH, NA RUA FERREIRA BORGES)



(CENTRUM CORVO, NA RUA DO CORVO)



(TURÍBIO DE MATOS, NA PRAÇA DO COMÉRCIO)



((CAFÉ SANTA CRUZ, NA PRAÇA 8 DE MAIO)



(O CANTINHO DA ANITA, NA RUA DE SARGENTO-MOR)



(O CENTENÁRIO SALGUEIRO'S, NA RUA FERREIRA BORGES)


 Eis alguns pontos fundamentais a serem visitados na Baixa de Coimbra. Marcos de um tempo que a memória não apaga, que graças ao estóico esforço dos proprietários, se vão mantendo, como museus interactivos, a representarem, através do seu mobiliário e, alguns ainda, com profissões em desaparecimento.
Digam-me, não deveria ser o pelouro da cultura da Câmara Municipal que, através do seu vereador, Mário Nunes, um reconhecido homem de cultura, com provas dadas, que deveria tentar evitar o desaparecimento de algumas casas comerciais emblemáticas?
Podem até dizer, pois, mas a autarquia, agora, até criou a “Rota das Tabernas”! É verdade sim! Mas criou esta “Rota”, exactamente, quando, praticamente, na Baixa, não existe um único exemplar original para amostra. Deixaram fechar todas. Até vou mais longe, fizeram tudo para que estes “santuários”, duma vivência passada (mas recente na memória) da cidade, fechassem portas. É certo que existem alguns exemplares “cópias” dos originais, mas, em boa verdade, não deixam de ser réplicas.
E se a Câmara Municipal de Coimbra só agora tomou esta atitude, há pelo menos um homem, grande de cultura, que, através da sua teimosia, está na base desta tardia decisão. Falo, obviamente, de um discreto tenaz que, remando contra ventos e marés, levou a autarquia a, finalmente, emendar a mão. Falo, com todo o respeito, de Paulino Mota Tavares. É graças a ele, como principal reincidente na teimosia, coadjuvado por homens, como ele, livres de interesses pessoais como o engenheiro Luis Correia de Oliveira, que, a expensas suas, “in extremis” se salva alguma memória.
Poderia falar na ASAE como a última grande “vassoura” que ia varrendo o que resta, mas não, este processo de abandono de casas emblemáticas na cidade, este lesa-cultura, já vem muito de trás.
Foi-se o Café Arcádia, o segundo consultório do médico Adolfo Rocha (Miguel Torga); foi-se a Brasileira, centro histórico de tantos plenários anti-fascistas e de tantas reuniões estudantis; foi-se o Café Internacional, a antecâmara da Estação-Nova; foi-se o Café Central, um salão de chá cheio de tradição. Isto só para falar dos mais recentes, e de há cerca de uma década para cá.
Quem não souber vai argumentar do mesmo modo que fez Carlos Encarnação, aquando do encerramento da Central. E o que disse o presidente da autarquia? Disse, mais ou menos isto: “vivemos numa economia de mercado livre, onde a Câmara não pode intervir nos destinos de estabelecimentos privados. Onde os proprietários têm, por direito, a sua livre opção”. Acontece que é quase assim, mas só “quase”. Ou seja, a autarquia possui mecanismos que podem obstar a mudança de um determinado ramo de estabelecimento. Basta declarar aquele estabelecimento de interesse público municipal. A partir daí, poderá haver várias transmissões, mas o ramo não poderá ser alterado.
Lisboa já utilizou várias vezes este mecanismo jurídico. Coimbra nunca o fez. Talvez por isso desaparecesse, na Rua Ferreira Borges aquela linda Barbearia, onde está hoje a Ourivesaria Ágata; desaparecesse a Loja de Ferragens Neves, na Rua da Sofia; a casa dos Cafés, na Rua Adelino Veiga; a mercearia Ernesto Vasconcelos, na Rua Eduardo Coelho; etc,.
Evidentemente que não chega “querer”. É necessário, através do Estado, criar meios de subsistência para que estes “museus-vivos” se mantenham em actividade. Por exemplo, criar um diploma, através do Ministério da Cultura, para preservar estabelecimentos com mais de meio-século, sob a égide “estabelecimento de tradição”, em que, para além de uma placa identificativa na porta principal, seria incorporado nos roteiros turísticos das cidades. É utópico? Penso que não. É apenas seguir a mesma linha de pensamento -e pôr em prática- que o Ministério da Cultura tem para os artistas com o “Subsídio de Mérito Cultural”.
Infelizmente, creio, nem o presidente da Câmara lê este Blogue –sorte dele, se calhar, se lesse, até lhe podia dar uma apoplexia- nem o Ministro da Cultura. Mas se algum deles passar por aqui, pensem no assunto, os nossos netos vos agradecerão.

2 comentários:

Anónimo disse...

O Turíbio de Matos na Prabitar? :((

Vítor Ramalho disse...

O que se está a passar na baixa é uma vergonha. Criminalidade, abandono, desertificação, apoio a grandes superfícies em detrimento do comércio tradicional.
Mas ou ficamos sentados no sofá ou denunciamos e combatemos tudo isto.
Já não podemos andar com falinhas mansas é tempo de agir de sair a rua e gritar.