quarta-feira, 8 de outubro de 2008

UMA REMOÇÃO DUVIDOSA



A recente retirada do cartaz de propaganda do PNR, Partido Nacional Renovador, na rotunda de Entrecampos, em Lisboa, através do pelouro do vereador da Câmara Municipal daquela cidade, José Sá Fernandes, dever-nos-ia indignar a todos.
Como ressalva de interesses não tenho qualquer simpatia por este ou outro qualquer partido político. E, nessa aparente independência penso estar à vontade para criticar o exagero do acto discricionário. Digo “aparente”, porque objectivamente ninguém o é, uma vez que todos sofremos influências exteriores que condicionam a nossa liberdade de escolha e autonomia.
Parafraseando Victor Ramalho, do blogue “Alma Pátria”, “José Sá Fernandes não é Juiz, nem exerce essas funções com legitimidade para ordenar a retirada de cartaz de um qualquer partido português. A vertente política desta decisão é confirmada pelo facto dessa mesma ordem não ter sido dada relativamente ao cartaz do PCP, colocado a dois metros de distância do cartaz do PNR, o que demonstra que se trata de pura censura e não de motivos de estética ou outras”, refere indignado Victor Ramalho.
Em face do acto administrativo arbitrário, pessoalmente, estou completamente de acordo com Victor Ramalho. Como refere o articulista do “Alma Pátria”, “a censura política terminou, oficialmente, em 25 de Novembro de 1975.
Dão que pensar duas fobias que grassam na sociedade portuguesa. Curiosamente, antagónicas na ideologia. Uma, já mais antiga, com muito mais de três décadas e fruto dos medos incutidos por Salazar, dentro das políticas restritivas do Estado Novo, refiro-me ao anticomunismo primário que envolve muitos cidadãos, sobretudo menos esclarecidos. Passados 34 anos da queda do regime, os comunistas continuam a “comer meninos ao pequeno-almoço”.
Uma outra fobia, e esta tem a ver com este apontamento, é o constante receio, o ressurgir do fantasma de Salazar. E aqui, neste acto prepotente do vereador Sá Fernandes, essa intenção imerge completamente.
Acho, tenho a certeza, que todos têm direito à opinião, mesmo as mais aberrantes e com teses descontextualizadas. Estas políticas seguidas, às vezes por insuspeitos defensores da liberdade, como no caso presente, levam-nos a pensar que espécie de agir sem coerção defendem estas pessoas. Talvez uma liberdade feita à sua medida, em que a sua, sem barreiras possa invadir a esfera do outro, mas a do semelhante tem de estar condicionada ao seu livre arbítrio.
Também não admira, em tempo de pensamento único, do chamado “politicamente correcto”, a esfera do poder, convencida do seu iluminismo endeusado e absolutista, quer é ser bajulada e tudo o que é diferente e faça pensar é para abater.

1 comentário:

Vítor Ramalho disse...

Este seu texto é demonstrativo da sua isenção e frontalidade.
Bem-haja.