quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A MEALHADA E O PEQUENO REINO DO BUTÃO





O Butão é um pequeno reino com uma monarquia constitucional, com cerca de seiscentos mil habitantes, com fortes tradições e assente em pilares históricos de regime feudal. Em 24 de Março de 2008, os butaneses, depois do rei Jygme Singye ter abdicado a favor do seu filho e anunciando a realização de eleições democráticas, através das urnas puseram fim a mais de um século de monarquia absoluta.
Esta pequena nação, localizada na Ásia, “encravada” entre dois gigantes, A China e a Índia, tem a sua economia essencialmente baseada na agricultura, extracção florestal e, nos nossos dias, com uma forte aposta no turismo. A agricultura, essencialmente de subsistência, e a criação animal, são os meios de vida para 90% da população. É uma das menores e menos desenvolvidas economias do globo. No entanto é um país rico, com um PIB (Produto Interno Bruto) per capita entre os mais altos do mundo.
A Mealhada é sede de município e consta no último censos de 2001 com 4043 habitantes. Foi elevada à categoria de cidade em 26 de Agosto de 2003. O actual presidente, Carlos Cabral, eleito nas listas do Partido Socialista, está na Câmara há mais de 18 anos.
Esta pequena cidade está localizada, como enclave, entre duas grandes cidades, Coimbra e Aveiro, a primeira, a maior da zona centro, embora estagnada, a segunda, uma urbe média, cheia de ambição, onde a proximidade do mar, com a sua ria e os seus canais, a transformam numa futura Veneza portuguesa.
A Mealhada tem a sua economia essencialmente baseada na agricultura, sobretudo no vinho, e na extracção florestal. Para além disso, o turismo, através do seu afamado leitão assado, constitui um dos seus maiores proveitos. Dentro do país, intelectualmente, será um dos municípios menos desenvolvido. Apesar disso, a autarquia, financeiramente, fruto de uma gestão criteriosa, é desafogada e rica. É das poucas autarquias sem défice. Pagando a fornecedores a curto-prazo. Para além disso, contrariando outras câmaras do país tem uma rede de saneamento básico praticamente a 100%.
Pergunta você, Leitor, qual a razão desta comparação? Calma, vá lendo que vai entender sem dificuldades.
Hoje, dia 11 de Setembro, era dia de reunião pública do executivo mealhadense, e porque apresentei nos primeiros dias de Junho um “Anteprojecto em forma de Ideia” para criação de um “Parque Expo de Mesteres Antigos da Mealhada –Artes & Ofícios Tradicionais”, em que, para além de plasmar a ideia em várias alíneas, me oferecia para ceder a termo e a título gratuito algum acervo de antiguidades, sobretudo relacionados com profissões em desaparecimento, para início de fundação de um museu, uma vez que a Mealhada não tem nenhum. Esta ideia surgiu depois de ter lido um editorial no Jornal da Mealhada. Acontece que passaram três meses e resposta da autarquia nem vê-la.
Nos últimos dias do pretérito Agosto, numa terça-feira, desloquei-me à Câmara e, à funcionária assessora do gabinete da presidência, contei ao que ia e que estranhava a falta de comunicação. Para além disso, como era natural do concelho e estava ali de férias nessa semana, pedi para ser recebido pelo presidente Carlos Cabral. A senhora, pedindo-me o número do telemóvel, comunicou-me que levaria o assunto ao presidente e que no dia seguinte me diria alguma coisa. Na quinta-feira seguinte, à tarde, recebi um telefonema da senhora funcionária informando-me “que o senhor presidente não tinha recebido nenhum Anteprojecto e, para além disso, não me poderia receber nessa semana, que quando houvesse possibilidade que me telefonaria”. Portanto, caso eu quisesse a apreciação do presidente teria de novamente apresentar uma segunda via.
Evidentemente, perante esta displicência, passei-me. Retorqui à senhora que outro documento nem pensar. Para além de mais, se o presidente me quisesse receber ou não, era com ele. Depois de pensar melhor, neste profundo acto desrespeitoso, no dia seguinte, de manhã, estava perante a funcionária a declinar ser recebido pelo chefe da autarquia. Responde a funcionária: “não quer mesmo que seja apreciado o seu Anteprojecto? É que afinal está cá!”
Logicamente que neguei tal intenção. E como “quem não sente não é filho de boa gente”, hoje, às 15 horas, estava presente na reunião pública do executivo para apresentar o meu protesto.
Perante o executivo, e diante dos três vereadores da oposição PSD, dirigindo-me ao presidente Carlos Cabral, reiterei o profundo desrespeito que sentia por parte da autarquia. Lembrei-lhe que para além de, legalmente, estar vinculado ao princípio de resposta em tempo útil, acima de tudo, para além da lei, há princípios éticos a cumprir, e que, neste caso, não o foram. Olhos-nos-olhos, disse-lhe que num tempo em que se apela constantemente à cidadania e à participação política é inadmissível que quando alguém tenta romper as barreiras claustrofóbicas existentes é ostracizado duma forma que raia a provocação. Infelizmente, nota-se que tal comportamento é há muito transversal ao país, independentemente das cores partidárias.
Carlos Cabral, como imperador ferido no seu amor-próprio, sem disfarçar o azedume, e com alguma rispidez, retorquiu: “em mais de 28 anos o senhor é a primeira pessoa a dizer-me que desrespeitei alguém e a acusar-me de falta de ética”. Trocando os pés pelas mãos, demonstrando não ter lido o documento, e utilizando alguma ironia, rematou asperamente: “proposta académica? Isso é o quê? Académica, só conheço a de Coimbra”. Pedi-lhe para contra-argumentar mas, irritado, com aspereza, negou: “o senhor já disse o que tinha a dizer”.
A segunda pessoa a intervir era um edil do PS e de uma junta de freguesia próxima –pela repulsa que me causou escuso-me a referir o seu nome e o lugar que representa. Começou com a seguinte introdução: “quero-lhe dizer senhor presidente, antes dos assuntos que me trouxeram aqui, que o senhor merece uma medalha de ouro do concelho”. Ou seja, num subserviente acto, esquecendo-se que um edil de uma freguesia perante o presidente da Câmara local deve exigir e não esmolar, estendeu a passadeira vermelha ao chefe, certamente, também, para mostrar que era um seu “cão de fila” e que estava ali para o defender com unhas e dentes.
Claro que o chefe do executivo, como ditador do Butão, perante tal encómio, derreteu-se todo e quando o tal edil perguntou se podiam entabular um diálogo, logo o chefe, sem delongas, anuiu: “claro, claro, esteja à vontade!”
Quanto à oposição, sinceramente leitor, nem lhe consigo dizer o que senti. É branda, duma moleza a fazer lembrar a manteiga, gentil, e dirige-se ao presidente da edilidade com “pezinhos de lã” e modos reverenciais.
Por seu lado, sem qualquer respeito, duma forma prepotente, Carlos Cabral quando se dirige aos vereadores da oposição é sempre com ironia, não disfarçando o seu tratamento de menoridade. Por parte dos vereadores do executivo, reparei que os bocejos eram constantes.
Durante as duas horas e meia que permaneci no Salão Nobre, a meu modo, analisei os seus gestos, os seus olhares, a forma de se exprimirem, e, sinceramente, a impressão que trouxe não podia ser mais negativa. Usando uma metáfora, aquele quadro parecia a branca de neve e os seis anões.
A Mealhada, a bem da democracia, tal como reino do Butão, precisa de uma revolução política que altere este situacionismo.
Já percebeu agora porque fiz a analogia com aquele pequeno reino?

1 comentário:

Vítor Ramalho disse...

Os politicos do sistema são todos farinha do mesmo saco.