quinta-feira, 7 de agosto de 2008

NO MEIO DE DORMINHOCOS HÁ SEMPRE ALGUÉM QUE DESPERTA



Uma funcionária do Jornal O Despertar, recentemente adquirido pelo grupo de Lino Vinhal à família de Fausto Correia, a semana passada, telefonicamente, contactou diversos comerciantes. Tratava-se, segundo a porta-voz do jornal, de durante vários meses, o semanário fazer um trabalho jornalístico sobre a Baixa de Coimbra. Por isso mesmo, e tendo em conta a necessidade de promover esta zona histórica, o jornal tinha pensado em publicitar algumas firmas a um preço excepcional, ou seja, 50 Euros por mês, e durante quatro semanas.
Pessoalmente, por pensar que “O Despertar” iria realizar um trabalho jornalístico de qualidade, aderi ao primeiro mês, de Agosto, com a promessa de que, se gostasse do trabalho apresentado pelo jornal, faria outras assinaturas, durante os próximos meses.
Para minha surpresa a edição de 1 de Agosto apresentava uma página quase completa de publicidade de 19 entidades privadas e uma pública, no caso a Junta de Freguesia de S. Bartolomeu. No canto superior esquerdo, a ocupar um pouco mais de um sexto, um texto em forma de editorial.
Para melhor compreensão, vou transcrevê-lo na íntegra:

“CENTRO COMERCIAL COM ALMA E HISTÓRIA”

“O Despertar é matricialmente um Jornal de Coimbra. E em Coimbra sente-se particularmente bem na Baixa e nos Olivais, zonas citadinas que lhe serviram de berço e de amparo. Por isso decidiu criar esta página de publicidade a preços módicos (50 euros por mês, acrescidos de impostos).
A ideia é fortalecer esses laços de fraternidade e dar o nosso sentido de ajuda e solidariedade a uma zona económica, a Baixa, que tão desamparada tem sido em benefício de outras zonas.
Pensámos em criar semanalmente uma espécie de roteiro onde os potenciais compradores poderão adquirir os bens de que necessitam.
Grande parte dos comerciantes que contactámos compreendeu a ideia, apoiou-a e colaborou. Inexplicavelmente outros compreenderam-na mas não a apoiaram. E destes, alguns são dos que apregoam a torto e a direito que estão a matar a Baixa.
Ficámos a pensar, por isso mas não só, que na Baixa há dois tipos de comerciantes: os que se queixam com razão porque a secundarização daquele espaço como centro de negócios lhes causa prejuízos avultados; e aqueles que se queixam sem razão, porque para eles a Baixa continua a render e são eles os primeiros a querer que as coisas assim continuem. Uma perspectiva nova que se abre à análise deste problema que, sendo da Baixa, a Coimbra respeita.
Entretanto, e como sempre, continuaremos a contar com o apoio dos que compreender a nossa ideia e connosco queira colaborar.
Até para a semana."

Nesta dicotomia entre os bons e maus (os que se queixam com razão, e apoiaram a ideia, e os que se queixam sem razão, porque não apoiaram), entendida pelo jornal, já vi que estou entre os bons (subscrevi o plano de publicidade). Porém, se aprioristicamente tal escolha me deveria deixar ufano, não me deixa mesmo nada contente. Classificar comerciantes, operários ou membros de um qualquer clube, como “hipócritas” só porque não aceitaram, é o mesmo que ver o mundo através de uns óculos a preto e branco, numa versão maniqueísta. É lógico que, em face da dualidade única de cor, o resultado é profundamente discutível do ponto de vista intelectual, enviesado e fica aquém da realidade.
Depois o jornal, quanto a mim, deveria ser mais diplomático, disfarçando o agastamento e o revanchismo contra aqueles que não aderiram ao plano publicitário.
Tendo em conta que a troco de “um preço módico”, de 50 euros por mês, “O Despertar” propõem-se “fortalecer esses laços de fraternidade e dar o nosso sentido de ajuda e solidariedade a uma zona económica, a Baixa, que tão desamparada tem sido em benefício de outras zonas”, nesse espírito de solidariedade, não se entende a carga de azedume que transparece no referido texto. Ou melhor, entendo eu que sou má-língua, como uma intenção apenas e só como interesseira e mercantilista. Meu caro director do Jornal O Despertar, efectivamente, a Baixa necessita de ajudas mas não destas. Na parte que me toca declino a mão que me estende.

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