sexta-feira, 13 de junho de 2008

ACIC: UM ACORDAR MUITO ENSONADO

Ontem. Dia 12, a direcção da Associação Comercial e Industrial de Coimbra (ACIC) levou a efeito, no seu Salão Nobre, à Avenida Sá da Bandeira, uma reunião com associados. Depois de ter sido publicado uma pequena notícia no Diário de Coimbra e ter sido distribuído um pequeno panfleto, pelos lojistas, em que se apelava à participação, vamos então apreciar o texto distribuído aos profissionais do comércio de rua e desenvolver o que se passou no dito encontro:

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Caro Associado:
O comércio vive, hoje, em nosso entender, uma gravíssima situação de crise, perante a qual não podemos ficar inertes.

Quando todo o País se manifesta (funcionários públicos, médicos, enfermeiros, professores, pescadores e armadores, camionistas, etc), o comércio tem permanecido calado, quando dezenas de milhares de estabelecimentos encerram por ano.

Como dirigentes associativos eleitos, temos a perfeita consciência de que, muitas vezes, não se consegue alcançar resultados que se mostram desejáveis e pelos quais nos batemos.

Como temos consciência também de que, sozinhos, não seremos capazes de procurar a solução para os mesmos, nem terão força as nossas reivindicações.

Falarmos sobre os problemas que abalam o comércio, informarmos sobre o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelo movimento associativo, ouvi-lo sobre formas de nos manifestarmos, são os objectivos de uma reunião, a ter lugar, na sede da ACIC, no próximo dia 12, pelas 21 horas, na qual, por certo, contaremos com a presença de todos.

A menos que a nossa visão esteja errada e que o comércio esteja bem.

A Direcção do Sector Comercial
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Num ambiente bucólico, contrário ao esperado, onde seria suposto um clima de conjurados de 1640, à média luz, com paredes negras, carregadas de história, os cerca de quatro dezenas de pessoas, entre comerciantes, funcionários e direcção da ACIC, estavam todos muito calmos. Pareciam crentes a assistir à homilia de Domingo. Supervisionados pela figura eclética de Castro Matoso,num grande quadro pendurado na parede, que foi também presidente daquela Instituição, naquela ambiência depressiva, de olhos fixos na pouca assistência, parecia interrogar se realmente haverá crise no comércio com tão pouquíssimos reclamantes e incomodados com os tempos que correm.
Exceptuando os membros da direcção -que a todo custo procuravam demonstrar a preocupação que os minava, embora, e contrariamente ao pré-anunciado, era saliente estarem mais para falar do que ouvir- poucos dos presentes se manifestaram. E dos poucos, alguns ainda aproveitaram para agradecerem o bom trabalho da direcção. Nestas coisas, como em tudo, deve dizer-se, sempre, o contrário do que se pensa. Pois claro! O politicamente correcto é o melhor. Nunca se sabe o dia de amanhã. Nestes poucos que manifestaram a opinião ainda se ouviu uma pérola deste género: “Coimbra nunca deve ir à frente, deve-se manter no meio. Por causa disso (de ser contestatária) é que tem sido muito prejudicada, sobretudo por causa da co-incineração”. Ora toma! Com comerciantes-pensadores destes o comércio e a cidade podem dormir descansados.
Quanto à direcção, se por um lado apelava ao surgimento de formas de manifestação, as que iam surgindo, um pouco mais afoitas, iam sendo progressivamente cortadas. Volta e meia lá ia sendo referido pelo presidente Paulo Mendes que era seu entendimento que se deveria seguir a via do diálogo com os parceiros político-partidários.Disse também este dirigente associativo que a ACIC pugnava, conjuntamente com outras associações a nível nacional, para que todo o comércio de rua, obrigatoriamente encerrasse ao Domingo. Um dos intervenientes afirmou que este diálogo perdura há dez anos e que são estes mesmos políticos que usam e abusam da crendice destes mesmos comerciantes. Entretanto os profissionais de rua vão caindo na miséria, como bando de tordos em fúria devastadora de um canhão.
Disse também este comerciante que o problema da obrigatoriedade de encerrar ou não todo o comércio ao Domingo, esta medida não passa de um garrote de contenção numa hemorragia que apenas serve para adiar a morte. Disse também este comerciante que a resolução da crise do comércio de rua, embora seja transversal ao País, passa essencialmente pelas autarquias locais e, nomeadamente a de Coimbra. Focou essencialmente a segurança dos estabelecimentos da Baixa durante a noite. Contou o seu próprio caso. Já tinha sido assaltado duas vezes. Uma em Setembro do ano passado e agora, há duas semanas, com o mesmo modus operandi, através de arrombamento de grades e destruição de vidro da porta. Porém, desta vez, o assaltante feriu-se e deixou partículas de sangue no chão. Entretanto foi detido para identificação um suspeito, um miúdo de 14 anos. À pergunta, acerca do desenrolar das averiguações deste suspeito, a um agente da PSP, respondeu este ao comerciante: “sabe cada exame ao sangue custa 1000Euros, e, como tal, só se fazem em casos especiais”.
Não admira que o comerciante, em lamento, afirmasse, em jeito de pergunta retórica, que raio de Estado de Direito é este que não garante um direito fundamental como é a segurança de pessoas e bens?! Os comerciantes servirão apenas para pagar impostos e votar em época de eleições?! Bem te podes lamentar comerciante, vai morrendo aos poucos, quem é que se importa contigo, homem de Deus? Tem juízo rapaz! Pensava eu, cá para os meus botões.
Quanto à solução de novas medidas, vamos com calma, para já a direcção da ACIC cumpriu uma obrigação, que é passar a ideia de que, afinal, está atenta e muito preocupada com os seus associados. Será que só acordou agora? Seria com o protesto dos camionistas?

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