quinta-feira, 15 de maio de 2008

CICUTA PARA SÓCRATES?


(Imagem retirada do blogue "Piolho da Solum")


Antes de começar a dissertar sobre o mal dos outros, e para que conste, não fumo, nem nunca estive “agarrado” a esse vício. Este facto dá alguma superior consistência moral ao que vou argumentar? Nada disso! Pessoalmente, estou a marimbar-me para quem fuma, desculpem a expressão. Normalmente, não me incomoda que mandem umas passas ao pé de mim, mas se me aborrecer, eu, sem grandes cerimónias, recrimino quem o faz. Se eu mandasse, jamais legislaria sobre a lei tabagista. Creio, para mim tenho a certeza, de que a liberdade de fumar ou não, é do foro íntimo de cada um. O Estado, numa obsessão proteccionista, de tudo controlar, não olha a meios para invadir a esfera privada de cada um de nós. Funciona como uma espécie de “papai Noel” nacional, aquele que se preocupa muito com a saúde dos seus filhos, como quem diz, com a saúde dos seus cidadãos. Mas é aparência, simplesmente aparência! E a prová-lo estão os encerramentos dos vários SAPS e urgências por todo o país. Facilmente se vê que este Estado paternalista apenas e só se preocupa com a receita que fica aquém das despesas.
Voltando ao tema inicial, que, já teriam adivinhado, tem a ver com o facto do primeiro-ministro José Sócrates ter sido apanhado a fumar a bordo de um avião a caminho da Venezuela, não deixa de ser ridículo como é que, de repente, um caso fortuito se transforma em abertura de telejornal em tudo o que é canal televisivo e crónica de jornalista, por mais experiente que seja.
Só a psicologia social explicará este comportamento mimético, de carneirada abstrusa e sem pingo de discernimento. Sócrates, pelo facto de ser primeiro-ministro, não é humano? Ora, sendo, naturalmente que não está imune a deslizes como qualquer um de nós. Esta condenação colectiva têm algo de ressabiada. É uma comunidade que não está bem. Não gosta de si própria, não se aceita, e, como tal, na primeira oportunidade aponta aos outros os seus próprios defeitos. Em vez de se apontarem armas ao “pobre” homem, dever-se-ia, pelo contrário, reivindicar que se olhasse para cada um de nós como apenas humanos errantes e pecadores. Pugnar para que quem faz cumprir a lei seja indulgente e tenha em conta que somos apenas e só pessoas. Que é o homem que faz o estatuto e não o contrário. Que por mais alto que este estatuto de classe seja, põe a nu, quase a ridículo, o “ser” homem, indefinido e pré-determinado, e não evita o “errare humanum est”. Que bem que me sinto, nestas alturas, na minha qualidade de anónimo e anódino cidadão.
Nunca gostei de puristas. Não quer dizer que às vezes, eu próprio, não tenha recaídas. Mas tento compreender os erros de cada um. Sou liberal, se é que isso quer dizer alguma coisa. Não gosto de fundamentalistas, religiosos, políticos, culturais, sociais e outros de tais. Não quer dizer, devo admiti-lo, que muitos que criticam não tenham razão e não devam fazer. Toda a crítica é construtiva, independentemente de ser ou não destrutiva. É apenas crítica. E é precisamente por o ser, que fazendo pensar o direccionado por esta, que é sempre salutar. E isto quer dizer o quê? Que quem diz que o exemplo deve vir de cima, tem toda a razão, e estou-me a lembrar de um bom livro que estou a ler, “Os Mitos da Economia Portuguesa”, de Álvaro S. Pereira, que, muito bem, lá põe os pontos nos ii. Porém, penso, os radicalismos são sempre perigosos. E, assim sendo, não vamos condenar o primeiro-ministro a ser chicoteado na praça-pública ou, como o seu homónimo, fazê-lo ingerir cicuta para evitar que cada um de nós pense por si, ou fazê-lo pagar, de uma penada, todas as nossas frustrações.

1 comentário:

Anónimo disse...

Na minha opinião, e contrariando muitos, a lei do tabaco foi uma lei que já há muito tinha que ser implementada. Parabens a esta lei!
Porque é que até agora, nós, os não fomadores, tínhamos que aturar um mau vício dos outros nos recintos que mais frequentamos? Lá por terem o vício deles não têm que incomodar os outros!
Agora já me sinto feliz por beber e sentir o cheiro agradável do café expresso em vez do cheiro horrível do tabaco dum perfeito desconhecido, que para além de o prejudicar a ele, prejudica-me também.
Viva a lei do tabaco!