quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

SALVEM OS VELHOS ANIMATÓGRAFOS

Sou um amante de cinema. Por ordem dos meus passatempos, depois de gostar de ler, de escrever, a seguir vem, inevitavelmente, o cinema. Vou, pela força de circunstâncias, como quem diz, pelo maior leque de escolha, aos novos e pomposos “multiplex”, onde posso ter uma dezena de filmes para optar. Mas, a verdade, ir a um velho cinematógrafo (cinema), para mim, é como encontrar um velho conhecido que não via há dezenas de anos, é fazer-me voltar aos tempos de menino. É qualquer coisa de espantoso. É como viajar de comboio, do Luso até à Pampilhosa, numa daquelas carruagens ronceiras com bancos de madeira. Sem esquecer, na estação de Luso, a vendedeira, com duas bilhas de barro na mão, a gritar aos quatro ventos: “áagguuaaa de Lusooooo…fresquinha”.
Ir a um velho cinema hoje, fazendo-nos viajar no tempo, é impagável. Vou amiúde vezes ao cine-teatro Messias da Mealhada. Na maioria das vezes o filme é o que menos importa. O que mais aprecio é a ambiência retro de outros tempos. Faz-me lembrar quando, em Coimbra, com 11 anos, ia ver filmes para 12 e pagava vinte e cinco tostões, hoje dois cêntimos e cinquenta. A ginástica que eu fazia para que o porteiro não desconfiasse que eu estava aquém da idade mínima. Chegava a entrar, quer no velho Tivoli, no Avenida, ou no Sousa Bastos, em bicos de pés, para parecer mais alto.
É inexplicável o que sinto hoje ao entrar num destes velhos cinemas, que constituem um monumento às reminiscências da nossa memória .
Há uns anos estive uma semana de férias em Vila Nova de Milfontes. Para minha surpresa o cinema lá da terra funcionava num velho barracão meio esconso. As suas cadeiras eram em ferro, a apresentação dos filmes era feita, como antigamente, em voz “off”. Lindo, lindo, creio que fui todos os dias ao cinema, independentemente do título a projectar. Saudosismo? Provavelmente. Ou então estou mesmo a envelhecer.
Agora, com o anúncio no “Jornal da Mealhada” de que a Câmara Municipal da Mealhada adquiriu o velho cinema do Luso, com toda a sinceridade, só posso dizer: Parabéns professor Cabral. E também ao senhor Homero, o presidente da Junta de freguesia de Luso, homem dinâmico que conheço bem e, certamente, estará por detrás dessa alienação.
Apenas deixo duas sugestões: a primeira que no restauro subsequente deixem a traça original e tentem manter ao máximo, entre mobiliário e decoração, a fidelização o mais original possível. Ou seja, tentar uma harmonização entre o antigo e o moderno, sem esquecer a necessária comodidade dos nossos dias, mas prevalecendo a memória de outros tempos. A segunda sugestão é que se faça o mesmo em relação aos velhos moinhos de água existente na freguesia. Certamente, tenho a certeza, a seu tempo, se fará um roteiro turístico destes velhos museus do pão.

2 comentários:

Licínio Filho disse...

Parabéns pela bela postagem!
Você saberia me dizer como funcionavam os animatógrafos? Pergunto, pois tenho um registro da presença de um animatógrafo na cidade onde moro em 1903 e não existia iluminação elétrica no lugar nesta época. Se puder me ajudar ficarei agradecido.
Um fraterno abraço.

LUIS FERNANDES disse...

NOTA DO EDITOR:

Começo por lhe agradecer o comentário. Em seguida, respondendo à sua questão, vou dizendo que antigamente, antes de haver a electricidade como energia alternativa, tanto quanto sei, a projecção de imagens nos velhos animatógrafos era feita através da Lanterna Mágica -que ilustro nas imagens acima e tenho na minha posse.
http://questoesnacionais.blogspot.pt/2012/08/um-comentario-recebido-sobre_14.html