quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

UMA CÂMARA INDISCRETA

Gosto de ler as crónicas de João Silva –ex-vereador da Assembleia Municipal de Coimbra e outrora eleito pelo PS. Normalmente, a meu ver, são acutilantes, embora sem nunca perder de vista o interesse partidário, o que quer dizer que habitualmente têm sempre um cunho interesseiro, levemente demagógico e a puxar sempre para o partido político a que pertence. Talvez por estar afastado das lides partidárias, as suas opiniões costumam ser racionais e lógicas. Embora, confesse, que há dirigentes partidários que, nas suas crónicas nos media, são de tal modo descarados a pugnar pelo indefensável que, das duas uma; ou se julgam iluminados e só eles vêem o que ninguém mais consegue vislumbrar; ou então crêem que quem os lê é tolo e não tem cérebro para pensar. O efeito, para mim, é passar rapidamente por cima destes seus escritos ou opiniões e considerá-los como publicidade barata, dada de bandeja pelos jornais. Um favor prestados a estes políticos, temporariamente arrumados na prateleira, mas que, como se sabe a alternância política, no país, é como uma moeda, só tem verso e reverso, e, assim sendo, os jornais, sobretudo regionais, sabem que vale mais não os esquecer, amanhã, inevitavelmente estarão novamente no poder, mesmo que não passem de uns idiotas chapados, num servilismo bacoco, sempre prontos a dobrar a espinha ao chefe, em detrimento da defesa da região para que foram eleitos.
Voltando a João Silva, desta vez o homem fez exactamente o que os seus correlegionários fazem. Ou seja, bater no opositor partidário, apenas por bater, sem lógica, sem coerência, sem fundamentação retórica admissível no actual contexto da segurança das cidades. Refiro-me à implementação de câmaras de vigilância, nas diversas urbes do país, em que os seus edis solicitaram autorização à Comissão Nacional de Protecção de Dados.
Hoje, dia 20 de Dezembro, no Diário de Coimbra (DC), João Silva desanca em Carlos da Encarnação acerca deste ter intenção de aplicar na Baixa o sistema de vídeovigilância. Argumenta o ex-edil do PS que o presidente camarário, com esta sua demanda, se “associou a uma campanha de insegurança psicológica –que abalou fortemente a actividade comercial da baixa”.
Quem vive e trabalha na Baixa sabe que a insegurança existe, embora saliente-se teve o seu pico máximo no verão. Depois do bom trabalho da PSP, a verdade é que continua a subsistir a pequena marginalidade do “gamanço” subtil, ou seja do furto simples. Então, chamar a isto insegurança psicológica é o mesmo que dizer-se agnóstico e crer em Deus. Argumentar com o desfraldar da bandeira do big brother, como o faz João Silva, também já não pega. Há muito que as pessoas, em face da violência em crescendo, abdicaram de um pouco da sua liberdade em troca de mais segurança. Como diz no DC a segurança nas cidades é um factor essencial, é verdade. Para logo a seguir vir com o anátema do “voyeurismo sem sentido”, segundo as suas palavras. Remato que a sua dialéctica é que não faz sentido. Dê pancada no presidente da Câmara, como costuma fazer, mas com coerência e bem consubstanciado, é o que espero das suas crónicas. A meu ver, hoje, quem for contra medidas de segurança interna corre o risco de se sentir desacreditado. A segurança, sendo um direito fundamental, é cada vez mais letra morta plasmada na Constituição.

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