sábado, 21 de julho de 2007

UM DAQUELES DIAS...

Hoje, para mim, é um daqueles dias em que não apetece fazer nada…mesmo nada. Nem escrever. E se nem isso me apetece –sendo um dos meus vícios- é porque não devo estar bem. É daqueles dias em que só nos apetece estar onde não estamos. Quereria poder dividir-me em dois seres: Uma andorinha esvoaçante e um homem rasante.
Como pássaro voador, corredor de fundo dos cinco Continentes, gostaria de parar lá em cima, do céu, abarcando o espaço ocupado pelo meu ser terreno, e, despretensiosamente, olhar para baixo e ver o que faz a outra metade humana, perdida na amálgama de gente, como uma espiga de trigo envolvida nas longas searas dos campos que se perdem no horizonte.
E o que vê a andorinha, satélite da minha curiosidade? Vê um homem a percorrer os caminhos que sempre percorreu ao longo da vida, igual a outros terráqueos, preso a hábitos que o tornam esclavagista, escravo das teias que ele próprio teceu, como aranha sempre a tecelar para não mais se libertar.
Vê um homem que tem noção da sua própria alienação que, sentindo-se preso, quer libertar-se mas não sabe como. Como autómato calcorreante, percorre, diariamente, as linhas societárias em busca de uma felicidade desejada mas utópica. Porque sabe que essa felicidade não depende apenas de si mas do meio envolvente e, nomeadamente, daqueles que estão mais próximos de si. Trava um conflito permanente entre o que quer e o que pode conseguir, uma vez que o seu querer depende sempre da harmonização de interesses entre ele e os outros. Procura não ceder ao desejo carnal animalesco e primário. Cujas consequências, se não forem sublimadas e calculadas, podem magoar seriamente terceiros.
A andorinha lá de cima continua a concentrar-se no espécime humano e vê um homem triste que lhe apetece escrever poemas de amor nas pedras da calçada, para que todos os transeuntes, ao pisá-los, os leiam e os sintam como mensagens de ardor, de alento e de amor. Ou talvez musicar os raios solares, com cada um, trazendo no seu calor, na sua imanência, uma música maluca que recorde um momento feliz.
Se este homem pudesse conceptuar um desejo, certamente, formularia que todos os dias fossem do riso. Que quem estivesse triste fosse multado com a pena de ter de sorrir. Que o mendigo, em vez de mostrar a tristeza espelhada no rosto, fosse obrigado a mendigar sorrindo. E que o óbulo, em vez de moedas, pudesse ser pago com um…sorriso.
Que deveria ser criado um tribunal sumário para julgar todos aqueles que contribuem para espalhar a angústia e a tristeza. E que a sua pena fosse terem de rir desalmadamente, vagueando pelas ruas da cidade, com um cartaz nas costas, escrito em letras garrafais: EU FUI O CAUSADOR DE MUITA TRISTEZA…DESPREZE-ME COM UM SORRISO.

1 comentário:

Anónimo disse...

"a honra ñ consiste em ñ cair nunca, mas em levantar cada vez que se cai."
Confúcio