segunda-feira, 23 de julho de 2007

REQUIEM POR UM AMIGO

Tu eras meu amigo e eu teu, António,
ouvíamo-nos no teu sonhar de utopia,
nessa tua consumissão e expurgar de demónio,
a rotina era um bicho parasita, eu sabia,
a linha da megalomania era o teu plutónio;
Porque partiste sem avisar?
podias, ao menos, prevenir,
que a tua saúde estava a periclitar,
que te sentias, sem forças, a ir,
porque não telefonaste para eu contar?;
Quiseste guardar segredo dessa viagem,
talvez para eu não a contestar,
porque me fizeste essa sacanagem,
sabias que não iria gostar;
Discutias tudo comigo, pedias opinião,
ouvias, pouco falavas, fazias-me importante,
aprontaste tudo, nem um pio ou palavrão,
não me mostraste a rota, ter-te-ia dado um sextante,
planeaste o fim e partiste sem direcção;
Onde quer que estejas, estarás resguardado,
já te estou a ver a observar e a pedir opinião,
mesmo que não queiras tu serás notado,
por essa irrequietude, essa insatisfação,
sinto que vais mexer e alterar esse mundo acabado.

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