sábado, 2 de junho de 2007

UMA FOLHA CAÍDA NO NATAL







É Dezembro…
Uma folha cai…lentamente…
Ziguezagueia por entre a amálgama de gente,
gente apressada, escrava do tempo,
insatisfeita, faces duras sem contento,
pisam a folha, alinhados em parada, com tacões,
ecoam na calçada…como centuriões.
As pedras vibram, com tanta precisão,
uma pedrinha solta-se na multidão,
alguém a pontapeia, ao acaso, em estopada,
ela rolando, por ali, vai sendo pontapeada;
O vento sopra, cortante, e a folha voa,
e de cima, olha para baixo, vê à toa,
este exército mal ordenado,
como se estivesse condenado,
a andar, andar, sem se render,
mesmo sabendo que vai morrer;
E de novo a folha cai…lentamente…
Um louco ri sozinho…desalmadamente,
pega na folha, com carinho, o anormal,
afaga-a com a mão, como se fosse um pardal,
faz caretas, gesticula, dança ao vento com nobreza,
embala a folha, dá-lhe beijos, filha da natureza,
nem o frio, a refrear o ímpeto, lhe faz mal,
ele sabe que é festa, não sabe que é Natal,
não sente a solidão, não conhece abraços,
não sabe a razão de tantos laços,
tantos sacos e sacas enfeitadas,
tantas almas embrulhadas,
tanto amor materializado,
tanto calor humano…desperdiçado,
entre o dever e o ser,
não é gente sem…o ter;
E a folha…lentamente,
nos braços de um demente,
sorri…para a turba disforme,
e, pensa a folha, se eu falasse…uma frase conforme,
mesmo com a voz do tonto rouco,
gritaria em altos berros: AFINAL QUEM É O LOUCO??!

2 comentários:

LOURDES SALVADOR disse...

DIVINAL! DIVINAL!
HUMILDEMENTE LHE AGRADEÇO
A TERNURA DAS PALAVRAS
QUE GRITAM, NO INTEROR DE UM SER
QUEM SABE NÃO SOMOS NÓS!
LOURDES SALVADOR

LUIS FERNANDES disse...

Calma, Lurdes, também não é preciso exagerar. Se continua assim, ainda faz de um idiota um grande poeta...