sábado, 2 de junho de 2007

O ABORTO (EUGÉNICO)

O ABORTO (EUGÉNICO)
Tudo começou com um beijo,
um gesto, uma mão a deslizar,
um calor desconhecido, um incontrolável desejo,
a mistura da carne, uma vontade sem parar;
Na horizontal, uma luta incessante, um par, uma união,
uma mistura de gemidos, dois corpos a transpirar,
línguas que se enrolam, dá-se uma explosão,
ouvem-se gritos cortantes, seres a suspirar;
Um espermatozóide audaz, mais rápido a calcorrear,
chega ao óvulo vencedor, começa a fecundação,
do sexo se fez vida, do verbo a multiplicar,
mistério das coisas terrenas, origem da criação;
Um corpo levanta-se, veste-se, sai, sem um olhar,
na cama, prostrada, jaz o deleite, a sensação,
na sua mente, mil conflitos começam a desabrochar,
foi pecado? Foi desejo? Tudo está em turbilhão;
Passa um dia, muitos dias, um vómito a começar,
só então vê a menina, o fruto da tentação,
olha à volta, está sozinha, começa então a chorar,
que fazer com a semente que germina em embrião?;
Não tenho condições, sem emprego –vou abortar!
Onde devo informar-me…para tomar uma decisão?
Devo parir um filho, sem apoio, só para uma vida salvar?
Ou, lavando as mãos como Pilatos, devo fazer uma extracção?;
Olho à esquerda, vejo gente, só querem liberalizar,
que a barriga é da mulher, é sua a fabricação,
à direita, a lenga-lenga, de que se não deve matar,
só Deus dá, Deus retira, só Nele está a solução;
Onde começa a vida? Onde está o iniciar?
É da filosofia, é da física? È uma interrogação!?
Será dogma, da metafísica? Tudo é para pensar!
Ou será do bom senso, que deve sair a razão?;
E ao Estado? Qual o papel que deve desempenhar?
Será mais fácil render-se, ou apostar na prevenção?
Pouco importa o futuro, é preciso é despenalizar,
qualquer dia é o furto, a droga, mesmo que só reste um milhão;
E então, pergunto eu, feto nascituro: tenho direitos para me afirmar?
Posso ser aborto, antes de o ser? Será maldição?
Ou ser, antes de ser aborto? Quem pode negar?
ser, ou não ser, eis a questão!?;
Se sou coisa…como não penso…(a vida podem tirar),
logo não existo…(não sou nada…não tenho afirmação),
que importa a concepção, uma semana, dez, vinte, se até não vou gritar?!
AFINAL NÃO SOU ABORTO? Sou eugénico! Não tenho salvação!

LUIS FERNANDES
(COIMBRA)

Sem comentários: